EDP aposta na continuidade com Stilwell de Andrade

António Mexia e Manso Neto bateram com a porta numa altura em que protestam em tribunal contra desaparecimento de pareceres. 

O anúncio da saída de António Mexia e de Manso Neto até poderia ser previsível mas, ainda assim, apanhou o mercado de surpresa. A garantia foi dada pelos analistas contactados pelo SOL. «Já era esperada a saída em janeiro de 2021, levando assim a uma saída mais cedo do que previsto. Contudo, esta saída ‘precoce’ abalou um pouco a confiança do investimento estrangeiro devido à polémica existente no caso judicial em curso, mostrando a deficiência da justiça portuguesa», refere Pedro Amorim, da Infinox. 

Também o analista da XTB lembra que os dois têm estado sob investigação devido ao caso das possíveis rendas excessivas praticadas pela EDP e que já tinham sido suspensos em julho do exercício de funções na sequência do inquérito judicial. «Estas notícias vieram a público e acabaram por colocar António Mexia e Manso Neto sob pressão. O presidente executivo da EDP continua a defender que é inocente neste caso e descarta qualquer tipo de acusação, mas as recentes notícias em que comunica que não irá integrar um novo mandato, tal como Manso Neto, acabam por ser a melhor decisão a tomar. Estas acusações visam não só o gestor, mas também a empresa em si, e tiram credibilidade à mesma», refere ao SOL.

A verdade é que este processo está longe de ser pacífico. O SOL sabe que os advogados de António Mexia e João Manso Neto apresentaram, na quinta-feira, um requerimento ao Tribunal da Relação de Lisboa no qual criticam o Ministério Público por este ter entregue o recurso das medidas de coação aplicadas aos dois ex-gestores da EDP sem incluir um conjunto de pareceres que faziam parte da sua defesa, que terão desaparecido. Ao que o SOL apurou, o requerimento pretende que os pareceres sejam incluídos nos autos do processo.

Em causa estarão nove pareceres sobre as medidas de coação impostas a António Mexia e João Manso Neto, que incluem as posições de vários especialistas jurídicos como José Faria da Costa, Maria João Antunes, Nuno Brandão, Paulo Otero e Filipe Cassiano Santos. Há também um parecer do escritório de advogados King & Wood Mallesons, entre outros.

Atual administração reconduzida 

Com a saída de Mexia e Manso Neto, o atual administrador interino, Miguel Stilwell de Andrade, foi convidado a formar o conselho de administração da elétrica – um convite visto com naturalidade pelos analistas contactados pelo SOL. 

«O atual administrador interino já estava a ser preparado para ser o sucessor de António Mexia na liderança da EDP e o mercado não se opôs. Temos uma administração mais jovem, virada para a sustentabilidade, o que será benéfico para a empresa numa altura em que a competitividade está a aumentar», refere Pedro Amorim. A escolha, segundo o analista da Infinox, foi vista com «agrado, com a subida das ações e batendo novos máximos históricos». E acrescenta que a EDP é a segunda ação favorita do PSI-20, seguida da REN.

Também para a XTB, a escolha de Miguel Stilwell de Andrade «acaba por ser das melhores soluções que se poderiam encontrar para recuperar a credibilidade da empresa junto dos investidores e do mercado, sendo este um dos principais focos da empresa, a adotar como estratégia para os próximos tempos: a recuperação da credibilidade e transparência da empresa no mercado e junto dos investidores». E acrescenta: «Os próximos tempos deverão ser fundamentais para que a EDP venha a estabelecer novamente a confiança não só dos investidores, mas também dos consumidores».

Estratégia vs. ações

De acordo com a Infinox, a nova estratégia da EDP é virada para a sustentabilidade da energia, «um novo segmento onde as zonas em que a EDP trabalha são mercados pouco explorados e encontrará sempre valor e novas oportunidades». Este caminho, segundo Pedro Amorim, é visto «como sinal positivo, apostando na inovação e na procura de novas áreas de negócio».

E lembra que a EDP tinha uma dívida de 16,2 mil milhões de euros no final de setembro de 2020, o que representa uma redução de 17,1 mil milhões ao longo de um ano. Por outro lado, tem 1,82 mil milhões em caixa, levando a uma dívida líquida de cerca de 14,3 mil milhões. «A EDP apresenta um rácio dívida/EBITDA de 4,5 e o seu EBIT cobre as suas despesas financeiras 4,7 vezes».

Já a XTB recorda que as ações da nacional cotada no PSI-20 reagiram em baixa às notícias de que António Mexia e Manso Neto estão de saída – as ações da EDP acabaram por desvalorizar cerca de 1,25%, caindo assim para os 4,41 euros, enquanto a EDP Renováveis registou perdas superiores, na ordem dos 2,14%, atingindo a marca dos 17,38 euros –, mas «o mercado parece estar a recuperar o ânimo e as quedas já foram praticamente anuladas».