Diego Armando Maradona foi sepultado na última quinta-feira do mês de novembro, junto aos pais, Diego Maradona e Dalma Salvadora Franco, no cemitério da Bella Vista, nos arredores de Buenos Aires. O último adeus ao craque argentino aconteceu numa cerimónia reservada aos amigos e à família – e depois de um velório público que ao longo daquele dia tinha já contado com cerca de um milhão de pessoas na Casa Rosada, o palácio do governo argentino, onde o corpo de Maradona esteve em câmara ardente. Um dia depois de o mundo ter ficado em choque com a notícia do desaparecimento do ex-futebolista de 60 anos, as despedidas fizeram-se à imagem de Maradona: entre homenagens, lágrimas e o desespero de ver pela última vez El Pibe, os excessos obrigaram mesmo a várias intervenções por parte das autoridades argentinas. Apesar dos momentos de tensão junto ao palácio presidencial, na sua maioria devido àqueles que já não olhavam a meios para atingir o fim, decidindo furar o protocolo de segurança para fazer o último agradecimento ao rei do Mundial de 1986; as decisões mais absurdas acabaram por surgir por parte quem lá estava dentro por direito: aproveitando-se do cargo, três funcionários da funerária responsável pelas cerimónias fúnebres de Maradona fotografaram-se junto ao corpo do argentino. As imagens – em que é possível ver um deles a fazer o sinal positivo com o polegar (vulgo ‘fixe’); enquanto toca no rosto daquele que é por muitos considerado o melhor futebolista de todos os tempos, que já se encontrava dentro do caixão –, não demoraram a tornar-se virais, com as redes sociais em polvorosa, mostrando repúdio e indignação. Diego Molina, o protagonista da fotografia acima descrita, não demorou a desaparecer do mapa, tal era a quantidade de ameaças de morte que viria a receber nos instantes seguintes à publicação. Omesmo aconteceu com Claudio Fernández e o filho, os outros dois indivíduos que também correram mundo após divulgação de uma fotografia junto ao ex-jogador do Boca Juniors, Barcelona ou Nápoles. Ao contrário de Molina, num ápice se ficou a saber tudo sobre a família Fernández, com a polícia argentina a ser chamada para ficar de vigia de modo a evitar um desfecho trágico. «Eu trabalho com várias agências funerárias há vários anos. Não tiro fotos a falecidos, por respeito. Mas que posso dizer? Estávamos a acomodá-lo, preparando-o para o levar e alguém diz ‘olha para aqui’. Eu olhei, o meu filho é um miúdo e levantou o polegar. Peço respeito e perdão a todos. Fiz o serviço fúnebre do pai do Maradona, do cunhado e nunca fiz algo assim. Nunca lhe fiz isto em vida, sabendo que ele é meu ídolo não o faria na sua morte», explicou Claudio Fernández à Radio 10, garantindo que tanto ele como o filho foram vítimas de uma armadilha: «O que fiz não foi intencional, nem da minha parte nem do meu filho. Se virem bem a foto, chamaram-me e apenas levantei a cabeça, estava a acomodá-lo. O meu filho levantou o polegar. Nada mais, foi instantâneo. O que eu mais queria era deixá-lo como o ídolo que era. Peço desculpa». Também com incontáveis ameaças de morte e à sua família, escusado será dizer que pai e filho foram despedidos da empresa funerária em que trabalhavam há sete anos. Também Molina, de 40 anos, foi prontamente dispensado – a Casa Funerária Pinier assegurou que o homem não fazia parte dos quadros da empresa, tendo sido contratado apenas para as cerimónias fúnebres de Maradona. Molina – que chegou a ser dado como morto nas redes, após a polícia ter retirado um cadáver do lixo na sexta-feira, dia 27 de novembro – entregou-se entretanto às autoridades daquele país. Ohomem já esteve a braços com a justiça argentina e tem antecedentes criminais em processos onde foi acusado de usurpação (2016) e violência doméstica, já este ano. Além disso, fala-se da sua expulsão de sócio do Argentino Juniors, clube onde Maradona se formou e começou a carreira profissional futebolística.
Sem se saber ainda ao certo que tipo de sentença poderá ser aplicada aos ex-funcionários, o trio sabe, contudo, que pode ser chamado à justiça para depor sobre o sucedido. De resto, e enquanto a internet vai pedindo justiça pela memória do deus argentino, a claque do Boca (La 12) promete… vingança.
Médico pessoal de Maradona investigado
As polémicas em torno da morte de Diego Maradona estendem-se além do ato irrefletido por parte do pai e filho Fernandéz e Molina, com o médico pessoal do ídolo argentino a ser investigado por suspeitas de homicídio por negligência. A casa e o consultório de Leopoldo Luque, em Buenos Aires, foram alvo de buscas: a família de El Pibe esclareceu que a investigação às causas da morte do antigo jogador pretende esclarecer que tipo de tratamento médico recebeu desde a operação até ao dia da morte e quais os medicamentos que lhe estavam a ser administrados. Recorde-se que Maradona tinha completado 60 anos no dia 30 de outubro, dias antes de ter sido internado: a 2 de novembro, o antigo capitão da seleção argentina deu entrada numa unidade hospitalar nos arredores de Buenos Aires, por estar «emocionalmente mal» e por sofrer de «anemia». Os exames revelaram um hematoma subdural, obrigando a uma intervenção cirúrgica. Cerca de uma semana depois de ter sido operado com sucesso a um coágulo no cérebro, o ex-futebolista recebeu alta – tendo continuado nas últimas duas semanas de vida o processo de recuperação na localidade de Tigre, onde faleceu, vítima de paragem cardiorrespiratória. O agente e advogado Matías Morla denunciou que o ex-futebolista internacional argentino não recebeu assistência médica adequada e disse que iria exigir uma «investigação até às últimas consequências». Também as filhas do argentino e uma enfermeira que cuidava do ex-futebolista declararam irregularidades no internamento domiciliário de El Pibe. Leopoldo Luque já veio a público dizer que «amava» o seu paciente e amigo Maradona, adiantando que não tem «nada a esconder» e, por isso, está à inteira disposição da justiça. Debaixo de fogo apesar de garantir que não houve erro médico, a meio de novembro já tinha sido fortemente criticado pela família do ex-avançado após ter publicado uma imagem ao lado de Maradona após a operação. Trata-se de um dos últimos retratos em vida do então treinador do Gimnasia.
Maradona continua a ser homenageado pelos quatro cantos do mundo, com o fim-de-semana passado a ficar marcado por inúmeros momentos, como os golos de Cardona (Boca Juniors), Lorenzo Insigne (Nápoles) e, claro, Messi. O jogador do Barcelona tirou a camisola do Barça e exibiu uma do Newll’s Old Boys, clube que os dois representaram na Argentina – curiosamente, a jogada e o golaço protagonizados por La Pulga frente ao Osasuna foram muito semelhantes ao único golo apontado por Maradona pelo… Newll’s, em 1993. Vale a pena espreitar os dois vídeos e tentar jogar ao ‘Descobre as diferenças’. E também estas imagens ajudam a explicar por que razão os deuses são eternos…