“Há vacinas que estão atrasadas”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa

A morte de Ihor Homeniuk, as vacinas contra a covid-19 e o Chega foram alguns dos assuntos debatidos na entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo Rebelo de Sousa falou aos cidadãos portugueses, esta sexta-feira, enquanto candidato às eleições presidenciais de 2021, agendadas para janeiro, onde um dos assuntos mais controversos foi a morte de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano que morreu depois de ter sido agredido por 3 inspetores do SEF no aeroporto de Lisboa.

Quando questionado sobre o porquê de não ter entrado em contacto com a mulher da vítima, Marcelo Rebelo de Sousa para "não abrir uma exceção" e diz que não fala sobre situações cujos processos criminais estão em curso. "Tinha falado no início de abril da investigação criminal em curso. A minha posição tem sido a mesma: quando há um processo criminal em curso, não falo dele publicamente", aponta o chefe de Estado, em entrevista à SIC. 

Muitos têm criticado o silêncio do Presidente mas Marcelo Rebelo de Sousa defende-se e diz que falou "inúmeras vezes" com António Costa sobre a situação do SEF.   "Se já tínhamos falado da matéria, nunca deixámos de falar, nunca trouxe a público porque achei que não o devia trazer".

O chefe de Estado aponta ainda que desde maio,"sucessivamente nunca nenhum jornalista perguntou sobre a matéria". Caso o tivessem feito, Marcelo diz que "teria dito que tenho tratado da matéria com o primeiro-ministro. Preocupa-me [o tema] em termos específicos e genéricos".

Questionado sobre se acha que o SEF agiu bem, Marcelo diz que "não vai adiantar o julgamento dos tribunais". Ter um novo SEF, de acordo com o chefe de Estado, "significa transferir as competências de controlo de fronteiras para outras entidades policiais e isso é uma revolução difícil. Por isso é que demorou tanto tempo a ser debatida".

Questionado diretamente se Eduardo Cabrita deve continuar como ministro da Administração Interna, Marcelo diz que a pergunta já foi respondida pelo primeiro-ministro, "que disse que tem confiança total. E o ministro não pediu a demissão".

Em relação à TAP, o Presidente da República afirma que esta deve continuar a existir e defende a manutenção da companhia aérea portuguesa. "Tem de se fazer uma reestruturação e tem de se pagar o preço dessa reestruturação", defende, dizendo que ainda não teve conhecimento do plano de reestruturação. 

Sobre a falta de vacinas para a gripe, Marcelo Rebelo de Sousa disse que acreditou na palavra da ministra da Saúde, Marta Temido. “Quando tenho a ministra da Saúde que garante que neste momento há vacinas para todos, eu acreditei na ministra”, esclareceu o Presidente, dizendo que assumiu publicamente a responsabilidade pelo erro. 

Questionado sobre se vai acontecer o mesmo em relação às vacinas contra o novo coronavírus, o chefe de Estado diz que "há vacinas que estão atrasadas", recordando declarações das próprias empresas, e que não se pode contar que estejam disponíveis em janeiro. "Não contemos com elas, em princípio, em janeiro" apontou o governante. 

Marcelo diz que está em contacto permamente com o primeiro-ministro sobre o assunto e afirma que Costa está "preocupado com criar expectativas" aos portugueses sobre a distribuição da vacina. 

A permanência no estado de emergência foi também uma questão colocada ao Presidente da República, que considera que a normalidade só poderá acontecer “quando os números de casos forem sendo reduzidos a tal ponto que a sua projeção nos internamentos e cuidados intensivos permita considerar a realidade estabilizada sem risco de disparar a situação”, explica. 

Questionado sobre se devia ter sido mais interventivo durante o seu mandato, Marcelo Rebelo de Sousa diz que pegou "num país dividido em dois hemisférios que se odiavam e deixaram de se odiar assim tanto". O Presidente diz que não foi eleito "para ser o Presidente da direita contra a esquerda nem para ser o Presidente que protege a esquerda contra a direita". 

O Presidente da República falou ainda sobre o surgimento de uma nova direita no país e depois de ter dito que "não exigiu" nem vai exigir um "acordo escrito para formação de qualquer Governo" admitiu que daria posse a um Governo apoiado pelo Chega. "Não vejo razão constitucional para dizer que um partido não pode" fazer um acordo, explicou Marcelo, dando a entender que não o faria com satisfação. "Se fosse líder partidário… mas sou Presidente e como Presidente há coisas que tenho de fazer que gosto e outras que não gosto. O Presidente não pode discriminar", disse.  Questionado sobre o que acha de André Ventura, Marcelo recusou-se a comentar. "O Presidente da República não pode esquecer-se que o é quando é candidato", apontou. 

Sobre as expectativas para os resultados presidenciais e se espera alcançar 70%, alcançando o resultado histórico de Mário Soares, em 1991, que alcançou 71% nas eleições. "Tenho vários defeitos mas não sou burro nem louco. Mário Soares é irrepetível" sublinha o chefe de Estado. "É o que for", assumiu o chefe de Estado.