Por José Manuel Azevedo, Economista
All quiet on the Western Front é o título de um filme, baseado numa obra do alemão Erich Maria Remarque, em que se dá conta de que, para quem se alistou no Exército alemão na I Guerra Mundial – com o fito de demonstrar coragem e heroísmo – não há, afinal, nada de heroico em fazer parte dela; contrariando a opinião daqueles que estão por fora e que tudo se permitem imaginar.
O que retrato aqui, não tendo nada de heroico, evidencia contudo que nada de muito novo temos para contar, mesmo que continuemos a ter factos que nos surpreendem todos os dias.
1. Começo pela situação da economia portuguesa. Sim, sei que esta pandemia que nos aflige desde março de 2020 (mesmo que, nessa ocasião, muita gente relevante reduzisse a importância do ‘fenómeno’ e, tempos mais tarde, desse os ditos, porque foram muitos, por não ditos) era algo com que nenhum governo estava pronto para lidar, menos ainda enfrentar devidamente.
Mas também sei que, agora agravados, os problemas da economia portuguesa são estruturais: competitividade e produtividade reduzidas, por comparação com a média dos países da União Europeia; endividamento constante, traduzindo uma política de ‘gastar em vez de amealhar’; dependência crónica – bastante maior a partir do momento em que Portugal começou a vencer prémios internacionais – do turismo e das atividades que gravitam à volta dele; dependência também muito comum dos subsídios concedidos pela já referida UE. Tudo isto envolvido em escândalos de corrupção algumas vezes demonstrados mas poucas vezes penalizados… a ponto de terem sido desviados salvo erro 1,3 mil milhões de euro de fundos europeus nos últimos dez anos!
Resultado: ou as circunstâncias exógenas, relacionadas com a dita pandemia, se alteram – e já sabemos que, mesmo que assim suceda, as consequências só serão sentidas a médio prazo – ou temos aí o ‘fantasma’ de novo resgate financeiro. Será que os ‘frugais’ nos voltam a facilitar a vida, depois da ‘bazuca’?
2. ‘O PCP volta a atacar!’ – depois de as cerimónias do 25 de Abril na Assembleia da República terem decorrido sem máscara (Ferro Rodrigues perguntava a que propósito os deputados se iriam ‘mascarar’, lembram-se?) e da celebração do 1.º de Maio, na Alameda, sob o “alto patrocínio” da CGTP, ter decorrido quando o país ainda confinava e diversas restrições às liberdades individuais existiam, depois dessas duas ocorrências uma terceira se verificou – a Festa do Avante! Mais uma vez o país (quase) todo se revoltou, mas a festa fez-se. Reaberta a economia e tendo começado a desconfinar, voltou a epidemia, agora em segunda vaga, com efeitos ainda piores na saúde dos portugueses. Faria sentido ser-se desta feita ainda mais prudentes, não é verdade? Pois, mas o XXI Congresso do PCP lá se realizou, em Loures (concelho ‘vermelho’, tanto politica como ‘pandemicamente’ falando), entre 27 e 29 de novembro. É verdade que das imagens que vimos uma coisa ressaltou: a enorme capacidade de planeamento e organização do PCP, com as regras da DGS a serem aparentemente respeitadas na íntegra. Mas será que um exercício de simples bom senso não teria aconselhado a adiar o evento? Ou fazê-lo ‘em remoto’?
3. Comunicação, ainda a comunicação – diz um dicionário online de Português que comunicar é o ato de dar a conhecer, divulgar ou informar, expor, noticiar ou veicular algo. Quando esse ‘algo’ se relaciona apenas com o que mais preocupa o país (os efeitos da pandemia, quando sairemos dela, etc.) é ainda mais relevante que se saiba construir a mensagem e escolher o mensageiro: será que Marta Temido, Graça Freitas, Lacerda Sales são mesmo os mensageiros adequados? Serão mais ‘arautos da desgraça’, mesmo quando (ou em especial quando) como foi o caso da primeira, se tenta passar uma mensagem de esperança fazendo o paralelismo com o filme A Vida é Bela, cuja ação decorre, como se sabe, num campo de concentração em Berlim… Não haveria metáfora mais apropriada? Ou, mais uma vez, estamos a descontextualizar a intervenção?
4. Vacinação contra a covid – ‘dando de barato’ (não devia, eu sei!) ter sido Marques Mendes a divulgar uma série de matérias relacionadas com a vacina, como podemos admitir que só agora tivesse Portugal nomeado uma comissão – mais uma – para preparar o Plano de Vacinação, em plena segunda vaga, quando outros países o começaram logo em março ou abril? Lacerda Sales dizia há dias algo do género «temos tempo, ainda nem temos vacina!»…
Sem dúvida, ‘a Oeste (no país mais a Oeste da Europa continental) nada de novo!’.