Restrições e pedagogia Para Filipe Froes, faria sentido o dever cívico de evitar deslocações e ajuntamentos mais numerosos, mas o médico salienta sobretudo a necessidade de uma forte pedagogia para comunicar os riscos. Ao SOL, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes considerou que o Governo tem em mãos uma decisão difícil esta semana e que não é momento para convívios alargados. “Estamos numa situação muito frágil”, disse, perante os indicadores na semana passada de que a descida de casos estava, ainda antes do Natal, a ser mais lenta do que o esperado e a estabilizar, com o RT (índice de transmissão) de novo acima de 1 em Lisboa.
Não desvalorize As constipações são mais comuns no inverno mas este ano os sintomas de sempre podem ter outra causa. E ficar em autoisolamento 14 dias pode ser mais difícil nesta altura mas desvalorizar é um risco para os outros, especialmente os mais vulneráveis. Médicos ouvidos pelo i admitem que pode haver maior desvalorização de sintomas nesta altura e advertem que há casos de pessoas que acabaram por infetar outras por isso. A quebra de testes nas semanas de feriados poder ter levado a menos diagnósticos é outro receio. Se tem sintomas, fique em casa.
Animais na bolha É outro conselho do CDC: se tem animais e vai receber convidados, só devem interagir com elementos da “bolha”, ou seja, do agregado. É mais uma forma de minimizar o risco de exposição caso esteja alguém infetado sem saber. Na festa, lavar mãos com frequência. Tenha toalhas individuais para os convidados no WC.
O vírus é que não sabe que é Natal De acordo com as projeções feitas para o Governo, no Natal são esperados ainda mais de 3 mil novos casos de covid-19 por dia, três vezes mais do que no pico da primeira vaga. “O vírus está muito mais espalhado. Se relaxarmos muito, vem uma terceira vaga ainda maior do que a segunda”, advertiu ao SOL o virologista Pedro Simas. Estima-se que haja sete vezes mais casos do que os diagnosticados. O epidemiologista Henrique Barros alertou já que no Natal dois em cada mil portugueses poderão estar infetados, mesmo sem saber. Seriam 20 mil infetados, a poder iniciar novas cadeias de transmissão.
Festas curtas O recolher obrigatório começa mais tarde nos dias 24 e 25, a partir das 2h, mas só nos concelhos de risco elevado. A DGS recomenda, no entanto, festas curtas: quanto mais tempo, maior o risco. “Em vez de estarmos juntos três, quatro ou cinco horas, vamos tentar estar juntos num tempo mais limitado de uma, duas ou três horas e optando por usar os espaços exteriores”, apelou o subdiretor-geral da Saúde Rui Portugal.
Quantos são? Entre os peritos ouvidos pelo Governo, há quem defenda limites nas festas, de oito a dez pessoas. A decisão só será fechada no fim da semana mas ontem a DGS defendeu uma redução substancial: “Em vez do grupo normal de 10 ou 15 pessoas, passar a ter, durante esta temporada, contactos com apenas quatro ou cinco pessoas, além do agregado”, disse Rui Portugal. O número de convidados deve ter em conta o espaço – devem ter sempre uma distância de dois metros. “Se um apartamento não tiver as condições de segurança, devemos repensar”, disse Rui Portugal.
Cozinhas são locais de alto risco É outros dos alertas da DGS. Nos EUA, o Centro de Controlo de Doenças (CDC) recomenda que seja o menor número de pessoas a entrar na cozinha e a manusear alimentos. Deve ser sempre a mesma pessoa a servir, para evitar que toda a gente mexa nos utensílios, e de máscara. E deixou ainda o apelo para se evitem as mesas cheias de iguarias, onde toda a gente vai petiscar.
Testes em cima do Natal Uma organização de saúde pública do Oregon publicou uma explicação sobre o período de incubação da covid-19 que se tornou viral. Se ainda não sabe o que aconteceu à Jane, aqui fica: No dia 1 foi exposta à covid-19. No dia 3 sentia-se bem, fez o teste e deu negativo. No dia 5 foi passar o Dia de Ação de Graças com 17 familiares (suponha-se o Natal). Estava contagiosa. Só dois dias depois teve sintomas, fez o teste e testou positivo. O período de incubação do vírus pode ir de dois a 14 dias, daí o aviso de que os testes podem dar uma falsa sensação de segurança e a recomendação para limitar contactos (sobretudo sem máscara, com maior risco de exposição), ainda mais antes de se juntar a outros no Natal.
Baixinho Tirando às refeições, deve usar-se máscara sempre que se está com pessoas de fora do agregado familiar. O CDC recomenda que se evitem cantorias e se fale baixo. Não ter música alta pode ajudar. Falar alto e cantar aumenta a projeção de partículas: um estudo publicado em agosto sugeriu que ao falar e cantar mais alto emitimos 30x mais aerossóis.