As primeiras vacinas da covid-19 deverão chegar ao país nos últimos dias de 2020 mas a campanha de vacinação vai ser longa e complexa. E se a expectativa tem sido contrabalançada pelo Governo e pelo responsável da task-force de vacinação com as incertezas associadas à quantidade e calendário de aprovação e distribuição das vacinas, duas semanas bastaram para que os planos inicialmente apresentados tivessem de ser reajustados e o cenário mais otimista traçado por Francisco Ramos deixasse de ser considerado fazível.
Primeira fase só acaba em abril
Na altura, o responsável explicou que, no melhor cenário, a primeira fase de vacinação – que se prevê abranger 950 mil portugueses (lares, 400 mil doentes de risco e profissionais de saúde, militares e forças de segurança) – poderia acontecer entre janeiro e fevereiro ou até março. Se as entregas corressem pior, seria até abril. O que foi alvo de rábula humorística, mas a incerteza confirma-se e, esta quinta-feira, Francisco Ramos revelou que atualmente é essa a perspetiva.
Em janeiro e fevereiro esperam-se agora doses suficientes para vacinar apenas 335 mil portugueses – 139 mil até ao fim de janeiro e 196 mil em fevereiro.
A primeira fase de vacinação só deverá ficar concluída em abril, iniciando-se então a segunda que abrange mais 1,4 milhões de portugueses, idosos com mais de 65 anos e doentes crónicos com mais de 50.
Quando ficarão ao certo vacinados estes grupos prioritários dependerá das vacinas e neste momento o calendário de entregas mais fechado é o da Pfizer, que já assumiu a nível europeu que não entregará 20% das vacinas inicialmente previstas.
No primeiro trimestre, a previsão é que a farmacêutica faça chegar ao país 1,22 milhões de doses, o que chega para vacinar cerca de 600 mil portugueses. Da vacina da Moderna, se for aprovada no início de janeiro, a previsão é que cheguem a Portugal 227 mil vacinas.
A vacina da AstraZeneca é o ponto de interrogação que fará a diferença entre o plano seguir mais depressa ou devagar, isto não havendo mais mudanças de nenhuma das partes: ainda não esta agendada a data de deliberação final da EMA, mas se for aprovada no início de 2021, a expectativa é que possa colocar mais 1,4 milhões de vacinas no país no primeiro trimestre. E torna mais realista que as duas primeiras fases de vacinação possam acontecer até ao verão, iniciando-se então a vacinação da restante população.
E aí nada se alterou: ninguém sabe dizer quando se atingirá a imunidade de grupo, que implica que 70% da população esteja vacinada e a vacina tenha 90% de eficácia em todos os grupos etários (o que é outra incógnita), mas tudo aponta que, a acontecer em 2021, só a partir do 3º trimestre. Até lá os cuidados terão de manter-se. “O início do processo não significa o fim da pandemia, o fim das restrições, o fim do problema”, disse ontem Francisco Ramos, sublinhando que há uma luz ao fundo do túnel mas o processo será longo.
Profissionais de saúde só devem estar todos vacinados no final de março
As primeiras 9750 doses, que se prevê que cheguem ao país entre 27 e 28 de dezembro, começarão por ser dadas a profissionais de saúde e o plano prevê agora que a campanha seja iniciada em alguns contextos mais expostos ao vírus, como cuidados intensivos, áreas dedicadas à covid-19, urgências, serviços de oncologia. Mas este mês o arranque será mesmo simbólico, já que ao todo há 300 mil profissionais de saúde para vacinar no país e as primeiras doses chegam para 4 mil. Mesmo até ao final de janeiro só deverão ser vacinados 21 mil, o que segundo o i apurou não garante sequer a vacinação dos grupos mais expostos e que terão prioridade. Tudo dependerá também da vontade dos profissionais para receberem a vacina, tarefa a cargo da saúde ocupacional das intituiçõs.
No início do ano, a task-force prevê que o esforço maior de vacinação esteja concentrado nos lares, onde se espera que sejam vacinadas 118 mil pessoas em janeiro, entre residentes e funcionários. No fim de fevereiro, a expectativa é que haja uma cobertura de 75%. O plano é que as vacinas sejam administradas por equipas móveis dos centros de saúde ou equipas próprias. Segundo o i apurou, lares onde já houve surtos de covid-19 serão abrangidos, podendo vir a ser vacinadas pessoas que já estiveram infetadas, dependendo do que vierem a ser as instruções da EMA.
Centros de saúde só vão receber vacinas em fevereiro
Os centros de saúde só começam a vacinar os 400 mil doentes de risco prioritários em fevereiro e a task-force prevê agora que sejam abertos centros de vacinação específicos para a covid-19 mas só a partir de março, quando haverá mais vacinas.
As pessoas serão convocadas para fazer a vacina por sms: uma primeira mensagem perguntará se querem receber a vacina, que será facultiva. Em caso afirmativo, é feito o agendamento.
Na primeira toma fica logo marcada a segunda dose – e essa é outra regra da campanha: só será dada a primeira dose se houver garantia de que está no país a segunda dose, para evitar o comprometimento da proteção.
Pessoas com alergia grave a medicamentos e historial de choque anafilático não serão vacinadas e as restantes contra-indicações deverão ser conhecidas nos próximos dias.
Ainda esta semana está prevista a divulgação de orientações da DGS, a que se tudo correr como esperado se segue a bula (ou Resumo de Características do Medicamento) da primeira vacina da covid-19 aprovada a nível europeu na próxima segunda-feira. Os profissionais começam a ter formação para dar a vacina da Pfizer no sábado.