A «confiança inabalável» do líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, na bancada do partido selou um conselho nacional do partido em que se tornaram mais claras algumas divisões. O presidente democrata cristão até fez um discurso conciliador, depois de 19 horas de debate na reunião do fim de semana, mas não apagou as críticas à estratégia. João Almeida, que foi seu adversário no congresso, disse mesmo que aquela não era a sua liderança: «Esta não é a minha liderança e este não é o meu caminho, não só porque não tenha sido o que apresentei, mas porque, sinceramente, não acredito», afirmou no encontro à porta fechada. Contudo, quis assegurar que não será por ele que o presidente democrata cristão não cumprirá o mandato.
Seja como for, João Almeida não esteve sozinho nas críticas. Cecília Meireles também avisou que havia um «elefante na sala» – o Chega – e até prometeu que não iria ficar «caladinha» a partir daqui, sobretudo depois de uma sugestão (que irritou os deputados e obrigou à defesa da honra da bancada). Raul Almeida, dirigente da comissão executiva, sugeriu que Cecília Meireles abandonasse o Parlamento para dar lugar a Rodrigues dos Santos, depois de lhe ter desferido várias críticas. Desta forma, também o presidente do CDS poderia ocupar o lugar de deputado. A sugestão, que foi feita em resposta à análise sobre a prestação da direção, não teve o respaldo do líder do CDS. Ainda assim, ficaram marcas da longa noite de debate interno que dificilmente serão sanadas. Mas a tensão era inevitável. O CDS não descola nas sondagens e até há quem alerte para o facto de o Chega ameaçar a sobrevivência do CDS. Foi o caso de Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente. Dias depois do conselho nacional, Adolfo Mesquita Nunes assumia que as autárquicas são um teste «à sobrevivência do CDS», numa entrevista ao Polígrafo/SIC. Há quem não seja tão pessimista, mas coloque a questão na liderança. O teste será à estratégia de Francisco Rodrigues dos Santos, que deve cumprir o mandato. Para o Chega também ficou o recado na referida entrevista de Mesquita Nunes. Numa futura solução governativa à direita, «se os deputados do Chega forem essenciais para formar uma maioria, a única coisa com que o Chega tem de ser confrontado é: quer viabilizar o Governo da esquerda ou o da direita? Mais nada. E se o Chega quiser viabilizar o Governo da esquerda, desaparecerá poucos dias depois», vaticinou o antigo dirigente centrista, a quem são apontadas ambições no partido.
Para memória futura ficou ainda a certeza de que o líder do CDS não quer alimentar uma guerra com os cinco deputados do partido, mas será difícil travar tensões antigas. Certo é que um dos pontos principais do encontro, o apoio formal ao recandidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa, passou por 82% dos votos, numa proposta que partiu do presidente centrista. A causa estava ganha, mas Francisco Rodrigues dos Santos ouviu de alguns conselheiros que teria sido possível ir a jogo com um candidato próprio, caso tivesse havido um trabalho prévio. Essa é também a opinião de Nuno Melo , eurodeputado do partido (ver entrevista nas páginas anteriores).
Entretanto, depois do conselho nacional do partido, o líder do CDS já reuniu a sua comissão política nacional para dinamizar mais a equipa de 50 elementos. O ponto de situação sobre as eleições autárquicas poderá ser feito até ao final do ano, mas há uma certeza: avanços com o parceiro preferencial de coligações, o PSD, só a partir de 24 de janeiro, ou seja, só depois das presidenciais. Até lá, o presidente social-democrata, Rui Rio, não pretende dar sinais públicos sobre este dossiê.