Faltou luz em 2020. Não sempre. Mas na maioria. E às portas do inverno esta sensação ganha ainda outra dimensão. Os estores estão abertos mas nenhuma diferença faz. E o relógio nem marca cinco para a meia-noite (atenção, temos entrevista à Inês Lopes Gonçalves nesta edição!). Passa pouco das 18 horas – e falta luz. Ainda assim escolho não dar à luz por aqui, deixando-me estar apenas com a luminosidade do ecrã do computador. E das luzinhas em tons amarelados que vão surgindo da árvore de Natal, para ser justa.
Ai, o Natal – como vai ser o Natal? Algumas destacadas personalidades respondem-nos nas páginas mais à frente. Diferente, certamente – e isto parece ser das poucas certezas que vamos tendo por esta altura. Mas, mesmo no meio do caos, nada como manter os pés quentes e o estômago aconchegado – a marca portuguesa Chulé diz até que pode fazê-lo com estilo e as receitas do chef Manuel André Fernandes só me proibem de ir à despensa porque acho pouco sensato uma vez que não me levantei até agora para acender a luz. Autodisciplina, para evitar escrever a verdade. Mas falta luz e nem as iluminações de Natal colmatam o breu.
Que raio de ano – ou, para ser rigorosa, que estranhos últimos nove meses, que, aliás, só deviam estar associados precisamente a quem está prestes a dar à luz. Mas assim o ano foi passando e já nem me esqueço da máscara quando saio de casa. Ainda estamos para descobrir que tipo de lições a pandemia vai deixar para o futuro mas, como em tudo, trouxe histórias caricatas também. As filas de supermecado, às vezes com esperas superiores a 20 minutos, podem ter a sua magia. Por lá apanhei um trio de raparigas adolescentes que falava sobre os seus problemas. E pobre da Rita, que não sendo nenhuma das três ali presentes, fique já a saber que, por alguma razão, certamente grave e indesculpável, tem lugar guardado no inferno.
A conversa estava realmente divertida, e, diga-se, valeu-me o equipamento de proteção individual, para sorrir à vontade. Chegou a vez de entrarem no supermercado e iam leves, sem desconfiarem minimamente de que o inferno até pode ser nesta vida. E que o diabo, afinal, também veste Massimo Dutti. Mas elas têm razão, no final de contas o que interessa é ver a Luz: e mesmo quando parece não ser avistável ao fundo do túnel, saber que esta pode ser encontrada em qualquer lado, mesmo nas folhas de uma revista.