O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, vai-se deslocar até Moçambique em janeiro para abordar com as autoridades locais a situação em Cabo Delgado, onde a violência armada, de grupos extremistas islâmicos, causou já mais de mil mortos e mais de 500 mil deslocados.
Esta notícia foi revelada pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, que escolheu o ministro português para representar e liderar a missão, acreditando que Santos Silva irá contribuir «para que a resposta da União Europeia de apoio a Moçambique seja o mais rápida e eficaz possível».
A escolha foi anunciada durante o segundo debate em três meses no Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre a crise humanitária e de segurança no norte de Moçambique, numa altura em que Portugal se prepara para presidir, a partir de 1 de janeiro, ao conselho da União Europeia.
O chefe da diplomacia portuguesa adiantou que, no momento, estão a ser finalizados os termos de referência da missão, para que depois possa ser marcada, com as autoridades moçambicanas, a agenda dos contactos.
«A urgência pede celeridade e a missão realizar-se-á no prazo de algumas semanas», garantiu Augusto Santos Silva à Lusa.
A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A União Europeia tem sido fortemente criticada demora da resposta a esta crise, algo que o ministro português rejeitou. «Moçambique é um estado soberano e decidiu pedir apoio à UE no passado mês de setembro. A UE estava em condições de preparar e organizar esse apoio a partir do momento em que Moçambique, estado soberano, o solicitou», disse. «A resposta positiva para ser eficaz, tem de ser preparada», acrescentou.
Apoio a 20 mil famílias
De forma a apoiar as mais de 20 mil famílias deslocadas devido aos ataques armados em Cabo Delgado a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) anunciou que já mobilizou cerca de 3,9 milhões de dólares (três milhões de euros) para garantir meios de subsistência, compostos por sementes e ferramentas agrícolas, de forma a permitir que as cerca de 100 mil pessoas possam produzir alimentos e reduzir a dependência e criar uma produção própria a longo prazo.
Além dos deslocados, a ajuda destina-se também aos afetados pelo ciclone Kenneth, que se abateu sobre a província em 2019.