Os receios em torno da nova variante do SARS-Cov-2 descoberta em Inglaterra intensificaram-se este fim de semana após novas informações do Reino Unido e a confirmação da identificação dos primeiros casos noutros países europeus. Os riscos em torno dos convívios e viagens pelo Natal e Ano Novo agravam-se com mais esta incerteza, numa altura em que a epidemia volta a registar subidas de casos em alguns países europeus, com mais um fator a ter em conta nos diferentes países onde não há sinais de que a variante esteja a circular, mas os dados genéticos são também em menor quantidade do que aqueles de que dispõem as autoridades inglesas.
Reações a diferentes velocidades Os Países Baixos foram o primeiro país europeu a confirmar a deteção da variante este domingo, num dia em que o Governo britânico assumiu que a epidemia não está controlada, o que levou ao cancelamento do alívio das restrições programado para o período do Natal – em Londres e no Sul do país vive-se um novo confinamento com lojas não essenciais fechadas e não poderá haver reuniões de vários agregados familiares no Natal. No resto do país só poderá haver convívios no dia 25 e caíram por terra os cinco dias de folga até aqui previstos e discutidos à exaustão nas últimas semanas.
Depois de confirmar casos, Amersterdão avançou com a suspensão de voos oriundos do Reino Unido, decisão que viria a ser tomada ao longo do dia primeiro por Bélgica, depois por Itália e Áustria. Da parte da tarde por França e Alemanha, que fizeram diligências junto de Bruxelas para uma posição conjunta, e Irlanda. Em Portugal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros descartou pela manhã avançar de imediato para uma suspensão de voos e começou por aguardar uma decisão conjunta europeia, tal como Espanha. Ao final do dia anunciou no entanto medidas: fica proibida a entrada de estrangeiros provenientes do Reino Unido e apenas poderão desembarcar os passageiros de voos provenientes do Reino Unido que sejam cidadãos nacionais ou cidadãos legalmente residentes em Portugal. Neste caso, passam a ter de apresentar, à chegada a Portugal, comprovativo de realização de teste laboratorial para rastreio da infeção por SARS-CoV-2, com resultado negativo. Se não tiverem feito o teste, têm de fazer cá e ficar em isolamento.
18 voos de Londres este domingo. ECDC recomenda testes Só ontem chegaram aos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro 17 voos provenientes de Londres e até aqui o desembarque no continente de voos oriundos de países europeus ou espaço Schengen não obriga a ter um teste negativo. Apenas viagens para a Madeira e Açores estão sujeitas à apresentação de um teste negativo feito nas 72 horas anteriores.
Na semana passada, quando o Governo britânico fez o primeiro alerta sobre a nova variante, o i questionou a Direção-Geral da Saúde sobre se estavam a ser equacionadas novas medidas de vigilância e quantos casos diagnosticados no país nas últimas semanas tinham ligação ao Reino Unido, mas até ao momento não houve um balanço.
Já este domingo a Organização Mundial de Saúde e Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças(ECDC na sigla inlesa) reforçaram os alertas e o organismo europeu publicou a avaliação rápida de ameaça que começou a ser preparada na semana passada com as autoridades britânicas, o que até aqui só tinha acontecido quando surgiram os primeiros casos de covid-19 e nos últimos meses quando se percebeu que existiam casos de reinfeção.
O ECDC não recomendou a suspensão de voos mas reforçou que são desaconselhadas viagens não essenciais. Recomenda para já que pessoas com ligação epidemiológica a doentes com esta variante ou com historial de viagem às áreas afetadas devem ser “identificadas imediatamente” para serem testadas, isoladas e ser feito o seguimento dos seus contactos para travar a disseminação, o que agora acontecerá nos futuros voos mas não se sabe se será aplicado em quem chegou ao país nos últimos dias, ainda sem a nova regra.
Por trás dos receios estão os dados reportados por Inglaterra à autoridade europeia: estima que esta variante tem potencial para aumentar o RT (o índice de transmissão que os países têm tentado empurrar para baixo) em 0,4 e que poderá ter uma transmissibilidade até 70% superior. “Um aumento da transmissibilidade de até 70% significa que uma pessoa infectada com esta nova variante tem até 70% maior probabilidade de infectar outra pessoa. São números comunicados pelas autoridades de saúde pública do Reino Unido. São preliminares e, portanto, devem ser tratados com cautela, e mais investigações são necessárias para verificar os resultados. O Reino Unido avaliou sua confiança nessas estimativas como ‘moderada”, indicou ontem ao i fonte oficial do ECDC.
O ECDC admite que esta época de maiores encontros e viagens pode ser propícia à disseminação desta variante. E a confirmar-se a transmissibilidade, pode tornar-se dominante, adverte. “Qualquer aumento na transmissibilidade aumentaria a probabilidade de o vírus se espalhar, particularmente se os convívios familiares sociais e familiares tradicionais nesta época não forem reduzidos e, para fora do Reino, especialmente se as viagens não essenciais não forem reduzidas ou evitadas de todo, o que poderia eventualmente levar a que esta variante substitua as que estão atualmente a circular na maioria da UE.” .