A nova variante do SARS-CoV-2 continua sob investigação e a concentrar as atenções a nível europeu. Sem muitas respostas adicionais além das que existiam no fim de semana, esta segunda-feira a equipa que vigia o vírus no Reino Unido admitiu que as mutações em causa podem significar maior suscetibilidade das crianças à infeção, um grupo etário que até aqui, sobretudo nas idades mais novas, tem mostrado menores níveis de exposição à infeção.
Não há indícios de que o vírus seja mais agressivo em termos de doença, nem nas crianças nem nos adultos, e esta ideia relativa a um possível maior risco de infeção nas crianças não tinha sido aflorada na análise feita pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, disponibilizada este domingo.
“Há uma pista de que poderá ser mais transmissível em crianças”, disse Neil Ferguson, do grupo de análise Nervtag. “Não estabelecemos qualquer tipo de causalidade, mas conseguimos ver isso nos dados”, indicou à imprensa. “O que vimos ao longo de um período de cinco ou seis semanas foi que consistentemente a proporção de casos do pilar 2 (testes na comunidade) para a variante em menores de 15 anos foi estatisticamente significativamente maior do que para o vírus não desta variante”, descreveu, sublinhando a necessidade de mais dados.
Depois desta alerta, no Reino Unido de novo sob confinamento surgiu o debate sobre um possível adiamento do regresso às aulas, sendo que até aqui as escolas funcionaram normalmente antes da pausa do Natal.
Restrições apertam e Europa tenta avaliar o risco Com as primeiras avaliações a sugerir que a variante detetada este mês em Inglaterra, mas cujos primeiros casos agora analisados remontam a setembro, pode ser até 70% mais transmissível e tornar-se dominante caso não seja contido o seu espalhamento, são agora vários os países com os voos do Reino Unido cancelados.
Canadá e Índia juntaram-se às restrições avançadas pela maioria dos países europeus, numa altura em que Bruxelas continua a avaliar o problema sinalizado em cima do período do Natal, que já era crítico quando a proteção da vacina só é esperada ao longo do primeiro trimestre do ano. O encerramento da fronteira entre França e o Reino Unido é um dos pontos mais sensíveis, com o Eurotúnel fechado ao tráfego a causar constrangimentos no abastecimento.
Em Portugal, as restrições à entrada em Portugal aplicam-se apenas a estrangeiros provenientes do Reino Unido. Os portugueses precisam de apresentar um teste negativo para desembarcar ou fazê-lo cá e nesse caso ficar em isolamento. Ainda assim, o cancelamento de voos deverá deixar muitos emigrantes que tinham planos para passar o Natal em Portugal em Inglaterra.
A variante não foi detetada na análise feita pelo Instituto Ricardo Jorge, informou o Ministério da Saúde no domingo à noite e ontem a ministra da Saúde considerou a nova variante mais preocupante pelos indícios de transmissibilidade significativa.
Receios que surgem numa altura em que os especialistas já apontavam para um aumento dos contágios no período do Natal, com maior mobilidade e contactos nas famílias. Na última semana foram reportados ligeiramente menos casos do que na anterior. Ontem no entanto verificou-se uma nova subida acentuada nos doentes internados nos hospitais.
Mais de 4 mil idosos infetados na última semana Apesar de os diagnósticos terem baixado, o número de idosos infetados permanece elevado em Portugal.
Os boletins da Direção Geral da Saúde, que o i analisou, revelam que na última semana continuou voltaram a registar-se mais 4 mil novos casos idosos com 70 anos ou mais infetados. Representaram 16% dos casos diagnosticados no país, um peso maior do que tinha sido habitual até aqui, o que significa que a diminuição de diagnósticos tem sido mais expressiva na população mais nova enquanto os grupos de risco continuam a ser fortemente expostos ao vírus, com uma incidência muito superior à da primeira vaga.