Por Célia Gonçalves Pires, diretora do Grupo Lusófona
Se há matéria em que todos estamos de acordo é que o mundo pós pandemia nunca mais será o mesmo. Esta crise irá certamente mudar todas as instituições da sociedade. A exata natureza, a forma e a direção que esta mudança vai tomar é, neste momento, inatingível mas, não pode nem deve ser deixada ao acaso ou ficar sujeita aos ditames dos que querem apenas restabelecer velhos sistemas.
O ensino superior deve desempenhar um papel central na construção do mundo pós-covid e deve fazê-lo através da remodelação do próprio ensino superior.
O novo mundo deve fundar-se nos valores da democracia, direitos humanos e Estado de direito, bem como justiça social, inclusão e equidade. O ensino superior deve ter um papel exemplar renovando o compromisso com os valores fundamentais de liberdade académica, autonomia institucional e envolvimento dos estudantes, professores e funcionários, e realçando de novo o papel das universidades como atores da sociedade que atuam para o bem comum.
No decorrer desta crise pandémica já estamos a testemunhar provas disto. As instituições de ensino superior, através das suas equipas de docentes e investigadores, colaboradores e os estudantes, têm respondido, de forma geral, com extraordinária dedicação e determinação, na investigação, na prestação de cuidados de saúde, na garantia da segurança dos próprios estudantes e pessoal, no apoio às comunidades locais e mantendo o ensino aos seus estudantes, por vezes num esforço de gestão e mudança que as próprias instituições não achavam ser possível em tão curto espaço de tempo.
O papel do ensino superior na formação de médicos e enfermeiros qualificados e dedicados, assistentes sociais, professores e outros profissionais nunca foi tão importante. Rapidamente se transformaram e reequiparam laboratórios e instalações inteiras para melhor se conhecer o vírus, ou para produção do tão indispensável equipamento de proteção pessoal. Assistimos a níveis, provavelmente sem precedentes, de colaboração mundial e de partilha de conhecimento na corrida para o desenvolvimento de vacinas.
Este espírito empreendedor, de empenho cívico, esta solidariedade social, devem estender-se para além da crise da covid-19 e tornar-se característica intrínseca e definidora do próprio ADN do ensino superior que, desta maneira, não deixa de se afirmar como um ensino e uma avaliação de natureza presencial, porque só nesta circunstância se cumpre em pleno o princípio constitucional da igualdade.
Criar um mundo melhor pós-covid requer universidades criativas, cívicas e democráticas dedicadas a produzir conhecimento e avanços tecnológicos, e a educar estudantes éticos e empáticos que fomentem sociedades democráticas, justas e sustentáveis.
É essencial para o nosso futuro que académicos, gestores universitários, governos, autoridades públicas e todos os parceiros comunitários trabalhem em conjunto para assegurar que o que precisa mudar, mude sem hesitação!