António Félix da Costa é o entrevistado da LUZ desta semana, numa altura em que já se faz a contagem decrescente para começar o novo Ano. E quantas vezes pedimos que 2020 metesse a sexta mudança e pudesse andar tão rápido quanto o campeão mundial de Fórmula E em pista, para ver se terminava de vez? Ilusão, claro, sobretudo num ano em que fomos todos corridos para casa sem saber quando e onde era a meta deste desafio. Aliás, assim vamos continuando, por mais que tentem fazer-nos acreditar que já é possível ver a bandeira de xadrez dançar lá ao fundo. Mas este texto não quer ser apenas sobre o que os últimos longos 9 meses nos tiraram. Pelo contrário. Num ano em que o passaporte mudou de género, passando com rigor a designar-se ‘passaporta’ – para a cozinha, sala ou quarto -, desde março deixou de ser concebível pensar em viajar. Mas os nossos atletas levaram-nos pelo mundo.
Em agosto, Félix da Costa garantia o mais alto título automobilístico da história do desporto nacional – e levava um país às costas por aí fora. Não pudemos viajar, é certo, mas as redes foram-se alimentando de mil e um cantinhos mágicos espalhados por Portugal, bem capazes de fazer inveja às habituais imagens que encontrávamos espalhadas pelos feeds: desde ilhas croatas, gregas ou um outro qualquer sítio que nos obriga a trazer na bagagem as pernas e tornozelos inchados para o próximo ano. Era agosto, e embora já todos soubéssemos que o ano tinha vindo embrulhado em modo caixa surpresa, nem tudo foi mau. Depois do piloto cascalense ter garantido que Portugal cabia todo num monolugar, Miguel Oliveira aparece para conseguir a proeza de levar um país numa moto, qual Cirque du Soleil. Ainda era agosto e lá fomos até à Áustria, mas o voo ainda tinha guardada nova escala para setembro, com Filipe Albuquerque, desta feita nas 24 Horas de Le Mans em automobilismo (LMP2), prova em que Félix da Costa foi segundo.
O calendário mudou a folha mas prometia continuar sobre rodas: em outubro, em Itália, João Almeida conseguia o melhor resultado de sempre de um português numa grande volta e Rúben Guerreiro era rei da montanha, também no Giro. Há praticamente um mês, Oliveira voltava a dar motivos para festejar, embora o triunfo histórico de Lewis Hamilton, pouco antes, tivesse impedido festa maior em Portimão. Não pudemos viajar, é certo, mas com eles todos fomos mais longe.
E Félix da Costa, que já perdeu a conta às cidades e países que já correu, é taxativo: “Não há nada como Portugal”. E se alguém ainda duvidasse, este ano também veio para dar lições.