Ninguém conseguiu parar a propagação, ninguém conseguiu descobrir um tratamento eficaz, ninguém descobriu com durabilidade o equilíbrio entre a restrição e o funcionamento da economia.
Exceto a China, porventura, mas por particularíssimas razões.
O confinamento golpeava fundo a economia, a abertura ao movimento significava mais casos e mais mortes.
Portanto, a grande questão passou a ser até quando as atividades económicas aguentavam a paralisia, ou quanto o Estado podia atribuir, ou como resistiam os cidadãos abrangidos.
Ou, do outro lado, como se aguentava a teoria da atividade crescente com a multiplicação dos contactos e a imaginativa tese da benignidade de alguns deles, como os transportes e as escolas.
Enquanto foi possível ignorar o óbvio, as coisas foram correndo.
O problema foi que, em determinado momento, o número de casos foi crescendo exponencialmente, as respostas dos sistemas de saúde entraram em dificuldade, os encerramentos e as medidas de contenção geraram um crescente mal estar e a vida do dia a dia de muitos cidadãos roçou o insuportável.
As configuradas segundas vagas e terceiras vagas não são, senão, os previsíveis pontos de rotura.
Se o número de contágios sobe, presumivelmente o número de casos graves tende a aumentar e as mortes sobem.
Porquê? Porque não é possível garantir acompanhamento em condições ideais a tanta gente. Ou haverá maior seletividade na entubação, ou se forçará o limite do tempo de assistência ao doente.
As consequências de uma e outra das atitudes são tão evidentes que não será necessário fazer grandes investigações quanto à razão do incremento substancial das mortes.
E não, não será por ocorrerem em segunda ou terceira vaga. É porque ultrapassam, o limite. Pode haver mesmo lugar físico ou ventiladores. Falta o resto.
Logo, o caminho seria a administração urgente da vacina.
Aí está ela, ainda não elas, ainda não o número necessário para uma intervenção massiva.
E a verdade é que, sem vacinas, continuaremos neste regime de sobressalto permanente.
A ideia do início da vacinação simbólica, ao mesmo tempo, em toda a União Europeia, é isso mesmo, simbólica. Não chega.
Se, ao mesmo tempo, a facilidade do contágio sobe com nova variante do vírus, a crise sobe, também, de tom.
Vale de pouco a controvérsia sobre as medidas para o Natal ou para o Ano Novo. É mesmo absurda.
A única saída é diminuir a possibilidade da ocorrência de casos e mortes e insistir na velocidade da produção e distribuição das vacinas.
Talvez sejam dois ou três meses de restrições duras. Sê-lo-ão certamente.
São mais esforço económico.
Mas, em contrapartida, quanto custará o esforço acrescido da saúde e qual será o preço a pagar pelas mortes inevitáveis?
A essencialidade desta questão, faz perder valor a outras como a insuficiente ponderação dos custos do hidrogénio, ou a conveniência inconveniente da Lufthansa, ou a evicção do assassínio como ato de polícia.
Qualquer governo, por mais que tente disfarçar, estará à beira de um ataque de nervos.
Como em 68, sejamos realistas, pois, peçamos o impossível.