A pandemia parece ofuscar o Natal. As restrições a que estamos sujeitos e as precauções que devem ser seguidas limitam este período tão especial e com tanto significado. Mas se colocarmos em perspetiva, passaram guerras, cataclismos, revoluções e até outras pandemias e o Natal permaneceu. A atual crise também passará e o Natal subsistirá.
O Natal tem fundamento no nascimento de Jesus, há mais de dois mil anos. O sentido do Natal – cuja origem, muitas vezes, é ignorada – assente nos valores da família e da sua reunião e no amor ao próximo e na demonstração de atenção é parte da nossa civilização e revela-se nos gestos que todos temos quando oferecemos um presente ou na vontade de estarmos em família.
O significado do Natal está arreigado no nosso próprio ser e subsiste porque é demasiado importante para ser alterado.
A pandemia que vivemos inquieta-nos, coloca desafios à forma como nos organizamos em sociedade e confronta-nos com questões sobre o que é, de facto, importante. Mas também nos dá lições surpreendentes sobre a capacidade dos seres humanos em resistir, adaptarem-se e responderem às dificuldades.
O sentido do Natal também tem estado presente no combate à pandemia. Olha-se para a generosidade daqueles que têm estado na linha da frente nos hospitais e nos serviços essenciais e constata-se o amor ao próximo. Olha-se para o cuidado com os mais velhos e observa-se a atenção pelos mais frágeis. Olha-se para o esforço coordenado da comunidade científica e comprova-se a entreajuda. Olha-se para a articulação entre os Estados (os mais ricos e os mais pobres) e verifica-se a solidariedade.
A vivência deste Natal põe à prova a nossa resiliência. A dificuldade em viver este Natal com menor intensidade nas manifestações festivas é consequência do cansaço deste tempo de restrições, mas também da importância que tem o Natal, de uma forma ou de outra, para todos.
Tentemos colocar este tempo em perspetiva e compreenderemos que o Natal permanecerá muito para além deste ano e desta crise. E observemos a manifestação do Natal em cada momento e em cada protagonista durante este tempo e poderemos sentir que, este ano, o Natal já aconteceu de modo surpreendente, muitas vezes dorido, mas verdadeiramente genuíno.
Talvez tomando mais consciência do sentido do Natal observado neste tempo possamos diminuir a ansiedade e, sobretudo, a irresponsabilidade de querer fazer tudo como se nada de diferente se passasse. Talvez pensando nos protagonistas e nas manifestações de amor ao próximo que se concretizaram no combate à pandemia consigamos dar um melhor Natal a quem já revelou Natal na sua ação. E nós teremos sempre Natal depois da pandemia.