por Joana Faustino e Pedro Almeida
O tempo frio chegou para ficar pelo menos até meio da próxima semana, segundo avançou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) ao i. As previsões são de que o dia mais frio aconteça no próximo sábado, dia 9. As temperaturas baixas são explicadas pela massa de ar frio transportada a partir do interior da península ibérica. Além disso, também estão para chegar algumas depressões, entre as quais a Filomena, anunciada pelo IPMA na passada terça-feira e cujos efeitos se deverão sentir até às 00h00 de dia 8. Esta última vai ter uma maior incidência na zona Sul do continente, havendo por isso a possibilidade de trazer alguma precipitação à região do Algarve que, de acordo com o IPMA, “não é de excluir a possibilidade de, nas terras mais altas, essa possibilidade ser sob a forma de neve”.
Portugal, ao ser um dos países da Europa cujas temperaturas são mais amenas, é também um dos menos preparados para receber o frio. Rui Nogueira, especialista em Medicina Geral e Familiar, afirma ao i que é por essa razão “que o frio é notícia todos os anos”. O médico continua: “Portugal tem a maioria dos seus meses amenos e por isso, na generalidade, não há preparação para o frio como noutros países, ou mesmo como nas regiões da Beira Alta e de Trás-os-Montes”.
Neste caso específico, o que preocupa os especialistas não são as temperaturas baixas mas sim o tempo que irão durar. Contactado pelo i, o IPMA explicou que as temperaturas que estamos a sentir não representam “uma situação completamente anormal”. Os avisos amarelos devido ao tempo frio no inverno são uma situação “que se observa com frequência”. Contudo, aquilo que não se observa com tanta frequência “é a extensão deste período frio”. As temperaturas já duram há alguns dias “e prevê-se que continue pelo menos até meio da próxima semana”, esclareceu o IPMA.
Preocupação com os mais frágeis
Com o frio a aumentar, aumenta também a taxa de mortalidade. Não especificamente por hipotermia mas por todas as complicações relacionadas com o frio como infeções respiratórias ou Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). Entre os mais afetados estão as pessoas com mais de 75 anos e todas as que se encontram em situação de sem-abrigo. De acordo com um estudo feito pela Universidade de Dublin, que analisou 14 países europeus, Portugal é o que tem a maior taxa de excesso de mortalidade no inverno. Para Rui Nogueira, o país encontra-se perante quatro situações que, juntas, são capazes de causar muitos estragos: “População idosa muito numerosa, pobreza, doenças e pouca preparação para o frio”. O médico avança que quando “é um idoso com problemas crónicos a viver a situação de pobreza” a situação torna-se ainda mais grave. Com uma das populações mais envelhecidas do mundo, e por isso de maior fragilidade, Portugal encontra-se numa situação crítica.
Também aqueles que vivem na rua estão a passar por uma altura ainda mais complicada do que o habitual. São muitos os pedidos que chegam às associações por mais agasalhos. Vasco Guerra, coordenador de uma das voltas noturnas da Comunidade Vida e Paz, afirma que em “quase todos os locais onde a carrinha para, as pessoas pedem mantas”. Na volta mais recente que fez, na passada terça-feira, “tinha o porta bagagens com mais de 20 mantas e se mais houvesse, mais tínhamos dado”.
A organização fez também no Natal uma recolha de meias para serem oferecidas àqueles que passam as noites ao relento. Todas as pessoas que a Comunidade Vida e Paz ajuda receberam dois pares.
Antes prevenir que remediar
Para que se previnam e evitem de algum modo complicações graves, Rui Nogueira sugere que se crie uma “linha de apoio aos idosos que funcione durante todo o dia e seja reforçada nas alturas mais complicadas”. Já existe uma Linha de Apoio ao Cidadão Idoso, mas funciona apenas entre as 9h30 e as 17h30. Fora desse horário, aqueles que vivem em situação de isolamento não têm a quem recorrer.
Rui Nogueira interroga o porquê de “não se criar uma promoção em que baixem, por exemplo, o IVA dos aquecedores e da energia elétrica”, para que aqueles que têm menos possibilidades não passem frio.
As temperaturas baixas deverão manter-se no mínimo até à semana que vem, havendo possibilidade de queda de neve nas terras altas, tanto do centro como do sul. Para os mais frágeis as recomendações são para que fiquem em casa com várias camadas de roupa e, se possível, com algum aquecimento extra.
As temperaturas mais baixas
Gondomar
• No Norte, vão ser sentidas temperaturas negativas com -1ºC
Guarda
• Dia 9 estão esperados de máxima na Serra da Estrela -6ºC e mínima de -10ºC
Oeiras
• Na cidade perto de Lisboa as temperaturas chegarão aos 3ºC no sábado
Mirandela
• Dia 8, vão poder ser sentidos 5 graus negativos
Monchique
• O Algarve vai chegar aos 0ºC na Serra de Monchique no próximo sábado