Galinha de Ovos de Ouro (Parte 1)

por Pedro Ramos Nova Iorque, dezembro 2020 Queridas Filhas, Hoje vamos explorar negócios na perspetiva de empresário ou sócio de empresário. Apenas vamos cobrir o topo do iceberg. Como qualquer arte, a avaliação de negócios beneficia de anos de prática e dedicação. Num primeiro nível, um excelente negócio é aquele que gera muito mais capital…

por Pedro Ramos

Nova Iorque, dezembro 2020

Queridas Filhas,

Hoje vamos explorar negócios na perspetiva de empresário ou sócio de empresário. Apenas vamos cobrir o topo do iceberg. Como qualquer arte, a avaliação de negócios beneficia de anos de prática e dedicação.

Num primeiro nível, um excelente negócio é aquele que gera muito mais capital do que aquele que necessita. O capital é gerado pelos lucros que a empresa liberta para o investidor. As necessidades de capital são de dois tipos: a) equipamentos, instalações e outros ativos com vida superior a um ano; b) investimento em stocks, crédito oferecido a clientes deduzido de eventuais financiamentos recebidos de fornecedores.

A primeira alavanca de valor é intuitiva: quanto maiores os lucros melhor o investimento. A segunda é mais subtil: quanto menores a necessidade de reinvestimento no negócio melhor o investimento. Para ilustrar estes pontos vamos imaginar que vamos lançar um kart de limonadas. O custo do kart já equipado é de 200 euros. Os stocks necessários são de 10% das vendas anuais. O kart vende 1.000 euros de limonadas no primeiro ano, e cresce a 10% por ano. As margens são de 20%. O gráfico 1 mostra os fluxos de caixa do negócio assumindo que o kart é renovado a cada 5 anos (manutenção de 40 euros por ano)

Gráficos como este são cruciais para avaliar oportunidades de negócio. A linha mais importante é a última (G). Precisamos de 200 euros de imediato para começar o negócio. Esperamos receber 60 euros no final do primeiro ano de atividade, 170 no final do segundo e assim sucessivamente. O negócio parece atrativo a partir do terceiro ano. Mas tem os seus riscos: só recuperamos os 200 euros investidos durante o segundo ano (60 euros recebidos no primeiro ano mais 170 euros recebidos no segundo são 230 euros).

Se as necessidades de capital do negócio aumentam, a atratividade deste diminui. Vamos assumir que precisamos de substituir o kart a cada 2 anos devido a maior deterioração. O gráfico 2 mostra que os fluxos de caixa diminuem – linha (G) – devido ao aumento dos custos de manutenção – linha (D).

O efeito seria semelhante se as necessidades de investimento em stocks aumentassem – linha (E). Experimentem um cenário em que os investimentos em stocks são de 20% das vendas e vejam os resultados.

Para alem das necessidades de capital, as duas principais alavancas de valor do negócio são o nível de vendas e seu crescimento assim como as margens e sua progressão. Nesta carta vamos falar de vendas e na próxima falaremos das margens.

As vendas do negócio dependem do tamanho do mercado que esta serve, da sua capacidade de produção e da atratividade do seu produto face à concorrência

Para aumentar o mercado servido, os empresários podem lançar novos produtos e expandir para outras geografias. Por exemplo, o nosso kart pode vender café e chá para alem da limonada. Pode ainda ser móvel por forma a servir uma área geográfica maior.

Há várias opções para aumentar a capacidade de produção: aumentar as horas de serviço abrindo turnos adicionais, aumentar o tamanho das instalações ou mesmo abrir novas instalações em diferentes geografias. No nosso caso, podemos contratar mais pessoas para ter o kart a funcionar até 24 horas por dia, 7 dias por semana. Podemos ainda comprar karts adicionais.

A forma mais difícil de aumentar as vendas, mas também aquela que mais valor cria, é desenvolver um produto que é claramente superior ao da concorrência. Se essa vantagem é sustentável por muitos anos, a empresa pode crescer rapidamente, tirando quota de mercado aos seus rivais. Um produto superior pode ainda levar a margens maiores para o negócio, como veremos na próxima carta. Há várias formas de desenvolver um produto superior: melhor qualidade, maior amplitude de gama, melhor serviço, menor custo, maior customização, melhor design, maior conveniência entre outras. No final, quem decide se o produto é superior ou não face ao preço é o consumidor.

No nosso exemplo, podemos desenvolver uma receita de limonada tão boa que as pessoas viajam de longe e esperam em fila para comprar, mesmo quando outros karts não têm fila. A Coca-Cola desenvolveu uma fórmula ganhadora para o seu produto que continua secreta há mais de 100 anos. Ainda ninguém lhe conseguiu roubar a liderança mundial. Essa fórmula revelou ser uma verdadeira galinha dos ovos de ouro…