por Joana Faustino e Pedro Almeida
Com um novo confinamento à porta, os supermercados voltaram a encher-se de gente e as prateleiras voltaram a ficar vazias. Se, por um lado, as grandes superfícies vão manter-se abertas, por outro são várias as pessoas que não sabem quando poderão voltar a sair de casa. Para já, seria de esperar que medidas semelhantes àquelas que se impuseram em março e abril trouxessem também comportamentos semelhantes. No entanto, há quem trabalhe em supermercados e diga que o açambarcamento nunca parou de todo.
Dénise Alexandra contou isso mesmo ao i: “Nos dias em que só estávamos abertos até às 13h, eu sentia que as pessoas compravam coisas completamente desnecessárias e acabavam com o stock”. A jovem de 20 anos era trabalhadora num supermercado e, apesar de ter terminado o seu contrato há uma semana, acredita que a situação vá piorar: “As pessoas levam cada vez mais coisas e chega a uma altura em que nós não conseguimos repor porque temos rutura de stock. Isso aconteceu imenso com o pão de forma, o papel higiénico e os iogurtes, por exemplo”.
Também Luís Carvalho, colaborador de uma grande superfície na Arroja, em Odivelas, acredita que o pior vai começar já este fim de semana: “Como tudo isto está acontecer durante a semana, ainda muitas pessoas não tiveram oportunidade de ir aos supermercados devido ao trabalho, mas acredito que, este fim de semana, as pessoas se desloquem até essas mesmas superfícies em grande número, como no início da pandemia”.
Mas não só as enchentes nos supermercados são uma preocupação. No que toca aos comerciantes locais, estes veem-se de mãos e pés atados perante a concorrência “desleal” que enfrentam perante as grandes superfícies. Apesar de permanecerem abertos durante o confinamento, têm uma menor variedade de produtos, sendo os bens de primeira necessidade o seu foco principal. Nos supermercados, por outro lado, pode comprar-se um pouco de tudo e, por isso mesmo, o Governo pondera restringir aquilo que vai poder ser adquirido nas grandes superfícies. No decreto-lei divulgado esta quinta-feira, essa possibilidade não está contemplada e os supermercados continuarão com os produtos que regularmente têm disponíveis para venda. No entanto, a hipótese de que as vendas passem a ser limitadas a algumas categorias de produtos continua em cima da mesa.
Contactado pelo i, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, avança que não está em causa a rutura de stocks e que, até agora, “não se está a sentir nada assinalável” em termos de aumento na procura. O presidente da APED esclarece que no primeiro confinamento geral não existiu nenhuma rutura de stock, apenas “uma adaptação da logística face ao aumento da procura”. Lobo Xavier acredita que é isso que acontecerá novamente, sublinhando e apelando ao bom senso da população que, por experiência prévia, sabe que os produtos continuarão a ser repostos, mesmo depois de as prateleiras ficarem vazias. “Se dez famílias vão ao supermercado e compram três embalagens de rolos de papel higiénico cada uma, é normal que essa prateleira fique vazia. Isso não significa que deixou de existir”.
Mesmo com supermercados abertos sem restrição de horário ao fim de semana – uma medida requisitada pela APED – e sem probabilidades de rutura de stocks, a previsão dos que trabalham diretamente com os clientes é que a “corrida aos supermercados” vai repetir-se.