Trump. O primeiro Presidente dos EUA a ser alvo de impeachment por duas vezes

A Câmara dos Representantes aprovou o processo de destituição do Presidente cessante, o segundo do seu mandato, algo inédito na história do país.

“Ninguém está acima da lei, nem mesmo o Presidente dos EUA”, avisou a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, depois de aprovar o segundo impeachment de Donald Trump, acusando-o de ser “um perigo real e claro para os EUA”, uma semana depois do caótico ataque ao Capitólio por parte dos apoiantes do Presidente cessante, que terá incitado à invasão.

Trump é, assim, o primeiro Presidente na história dos Estados Unidos a ser alvo de impeachment duas vezes pela Câmara dos Representantes, com uma votação de 232 votos a favor (incluindo dez votos de congressistas republicanos) e 197 votos contra (e cinco abstenções).

Contudo, isto não quer dizer que o Presidente cessante já tenha sido afastado oficialmente do cargo. Este processo está agora nas mãos do Senado, que ainda é controlado por uma maioria republicana, e só uma votação de pelo menos dois terços de votos (67) pode afastar efetivamente Trump do cargo.

Os republicanos estão numa autêntica corrida contra o tempo para aprovar o impeachment antes que o mandato de Trump termine: a transição de poder para o Presidente eleito, Joe Biden, acontecerá no dia 20 de janeiro, e é bem provável que não consigam alcançar a meta.

O líder da maioria republicana no Senado dos EUA, Mitch McConnell, apesar de ter admitido que não descartava votar na destituição de Trump, afirmou que não aceitará o julgamento político do Presidente cessante antes de Biden tomar posse.

Esta decisão, que representa a vontade da maioria republicana, significa que o Senado apenas se reunirá no dia 19 de janeiro, véspera da cerimónia de tomada de posse de Biden, impedindo que o julgamento político de Trump se realize antes da mudança de poder na Casa Branca.

No entanto, embora o julgamento político não tenha efeito sobre o mandato de Trump, pode realizar-se com o Presidente cessante fora do cargo, impedindo que este volte a candidatar-se à Presidência.

 

Rutura Total

Momentos após o impeachment por parte da Câmara dos Representantes ter sido tornado público, o Presidente cessante utilizou o Twitter para divulgar um vídeo onde condenava o ataque ao Capitólio, que provocou a morte de cinco pessoas.

“Nenhum dos meus verdadeiros apoiantes apoia a violência política. Nenhum dos meus verdadeiros apoiantes iria desrespeitar as autoridades policiais ou a bandeira americana”, declarou através da conta oficial da Casa Branca, já que a conta de Trump ainda se encontra suspensa por aquela rede social.

Mas esta manifestação de arrependimento pode ter chegado tarde demais.

Entre os republicanos de maior estatuto que votaram contra Trump está Liz Cheney, a número 3 do partido na câmara baixa do Congresso e filha do ex- -vice-presidente Dick Cheney, que afirmou “que nunca houve maior traição por parte de um Presidente dos Estados Unidos às suas funções e ao juramento da Constituição”.

Nunca um Presidente, na votação de um processo de destituição, teve tantos congressistas do seu partido a votar contra ele. O recorde era detido por Bill Clinton quando, em 1998, cinco democratas votaram para que fosse afastado do cargo.