"Sinto-me triste, como eleitor e cidadão português, por ter estado uma vida inteira ao serviço da GNR, durante quase 25 anos, e do povo português", começou por adiantar Francisco Calado, bombeiro voluntário de 61 anos e residente em Fronteira, município do distrito de Portalegre. "Antes do 25 de abril, trabalhei no Ministério do Exército e esse tempo contou para os meus anos de atividade, motivo pelo qual me reformei com antecedência. Estou reformado da minha instituição e continuo a desempenhar funções nos bombeiros voluntários de Borba", avançou, esclarecendo que estará de serviço, por 24h no próximo fim de semana e, por isso, solicitou o voto antecipado por via postal.
"Enviei o requerimento à administração eleitoral da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna", disse, elucidando que concretizou o envio no dia 4 de janeiro contando "com o atraso normal dos CTT", antecipando-se perante o prazo estipulado, isto é, o período compreendido entre os dias 10 e 14 de janeiro. "Fiquei abismado quando, no dia de hoje, me desloquei à Câmara Municipal para efetuar o meu direito democrático e fui confrontado, pelo presidente da mesa de voto, com a informação de que o meu nome não constava nos cadernos eleitorais de domingo, que são diferentes dos de dia 24", recordou, salientando que devia ter tido a oportunidade de votar tal como os cidadãos que estão internados, em confinamento obrigatório, presos ou em mobilidade como é o seu caso.
"Perante esta situação, só me resta uma alternativa: solicitar ao comandante dos bombeiros para, no próximo dia 24, dar-me autorização para que vá votar com a farda de soldado da paz. Questiono: quantos mais eleitores estarão a passar pelo mesmo do que eu?", perguntou o alentejano que apresentará queixa junto da Comissão Nacional de Eleições por considerar que a situação que viveu "é inadmissível".
"Tiveram mais do que tempo suficiente para me dar a resposta. Se não viram o meu requerimento enviado no início de janeiro, não o veriam se tivesse sido enviado no prazo definido", declarou, acrescentando que "estamos num país dito democrático e temos de cumprir as nossas obrigações perante o Estado e ele perante os cidadãos", mas tal não aconteceu consigo no contexto do voto para as eleições presidenciais. "Sinto-me deprimido e rejeitado porque o voto democrático é o direito de qualquer cidadão. Eu não cumpro, o Estado pune-me. Eu não cumpro, quem pune o Estado? O trabalho deve ser muito e não têm tempo de abrir as cartas, imagino eu", concluiu.
"Relativamente ao Voto Antecipado em Mobilidade foi alargada a sua possibilidade, permitindo o seu exercício a todos os eleitores recenseados no território nacional no sétimo dia anterior ao das eleições (domingo), numa mesa de voto antecipado, a constituir em cada município, escolhida pelo eleitor: existirá uma mesa de voto antecipado em cada município do continente e das Regiões Autónomas; os eleitores que pretendam votar antecipadamente em mobilidade devem manifestar essa intenção, na presente plataforma, ou por via postal, à administração eleitoral da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, entre 10 e 14 de janeiro", é possível ler no site do Ministério da Administração Interna.