“Vários hospitais não conseguem fornecer oxigénio aos doentes”, denuncia sindicato

“A falta de meios humanos, de camas e até de oxigénio tem levado à acumulação dos doentes em maca, à porta dos hospitais e nas ambulâncias”, denuncia sindicato dos médicos. 

Vários hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo estão atualmente em situação de rutura, sendo incapazes de assegurar o adequado atendimento de doentes covid e não covid em tempo útil e, além da falta de meios humanos, e de camas, há também falta de oxigénio, denuncia o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS).

“O grande aumento de casos de infeção por SARS-CoV-2 nas últimas semanas tem sido responsável por graves constrangimentos no atendimento nos serviços de urgência hospitalares. A crónica falta de profissionais de saúde, já conhecida desde há vários anos e agravada pela exigência da atual pandemia, tem levado ao substancial aumento do tempo de espera nas urgências e ao agravamento crítico do estado de saúde dos doentes em espera, sendo impossível prestar-lhes os cuidados necessários atempadamente”, começa por referir o sindicato, num comunicado emitido esta terça-feira.

O SMZS destaca que a falta de camas para fazer face à enorme afluência às urgências tem resultado na acumulação de doentes em macas, e até em cadeirões, “em condições pouco dignas e que dificultam o trabalho dos profissionais de saúde, e que não garantem o distanciamento necessário para evitar os contágios”. As urgências cheias levam ainda a que se sucedam as filas de ambulâncias à porta de vários hospitais, “onde os doentes acabam por ter de esperar várias horas, sendo necessário os médicos e enfermeiros abandonarem o serviço de urgência para prestarem cuidados nas ambulâncias, quando lhes é possível. Esta situação tem levado a indisponibilidade de ambulâncias para o transporte de doentes” covid e não covid.

“O Sindicato dos Médicos da Zona Sul tem conhecimento de que vários hospitais não conseguem fornecer oxigénio com a adequada pressão aos doentes, problema que tende a agravar-se nos próximos dias. Devido à falta de meios, em várias unidades, os critérios para atendimento e internamento tornaram-se mais restritivos, deixando de fora muitos doentes com dificuldade respiratória e com estados clínicos potencialmente em agravamento”, denuncia o sindicato, que destaca ainda que com a abertura de mais enfermarias para internamentos covid, são subtraídas as camas e recursos dedicados a doentes com outras patologias, “que assim veem a sua assistência comprometida”.

“Esta situação é agravada pelo cancelamento de consultas e cirurgias, incluindo as oncológicas, como aliás foi ordenado pela ministra da Saúde. Nos centros de saúde, verifica-se também uma grande dificuldade em assegurar o atendimento de doentes covid e o habitual acompanhamento de doentes não covid. Com os médicos de família quase exclusivamente alocados a tarefas de rastreio de contactos e de Trace covid-19, os utentes que recorrem aos centros de saúde acabam por ter de ser enviados para os hospitais, o que contribui para o congestionamento”, lê-se.

O SMZ considera ainda que apesar da “evidente pressão” sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Governo continua sem fazer uma “adequada gestão dos recursos disponíveis, não só no SNS, mas também dos setores privado e social”, frisando que o aumento da afluência aos serviços de saúde não tem sido acompanhado “do necessário aumento de profissionais”.

“Os médicos estão em exaustão devido à atual exigência e sobreposta a um esforço que já dura há 10 meses. O SMZS tem conhecimento de que em vários hospitais estão a ser mobilizados, para o atendimento a doentes covid, médicos de todas as especialidades, incluindo cirurgia, ortopedia, anatomia patológica, pediatria e psiquiatria, o que aumenta a possibilidade de erro e compromete a qualidade dos cuidados prestados”, destaca.

Desta forma, o sindicato, que responsabiliza a ministra da Saúde, o Governo e o Presidente da República “pela falta incompreensível e inaceitável do adequado planeamento da resposta a uma pandemia que dura há vários meses e em que estava anunciado o cenário de agravamento”, nomeadamente pelo alívio das medidas de contenção da pandemia durante as festividades da época natalícia”, exorta o executivo socialista a reforçar os meios de resposta à pandemia, não só nos serviços públicos, mas também “requisitando a capacidade instalada dos serviços privados e do setor social, que nesta fase se revela comprovadamente indispensável”.

Perante a situação de rutura, “o SMZS aconselha todos os médicos a entregarem minutas de escusa de responsabilidade para que as administrações, e o próprio Ministério da Saúde, se consciencializem dos graves erros que estão a ser cometidos na gestão da pandemia”, lê-se.

O SMZS faz ainda um apelo nacional para que sejam cumpridas as normas que evitam o contágio, a fim de que o SNS possa “assegurar um atendimento adequado a todos os cidadãos que dele necessitem”.