As eleições presidenciais do próximo domingo, dia 24 de janeiro, podem registar a maior abstenção de sempre, entre os 60% e os 70%. A estimativa é avançada por especialistas à agência Lusa que apontam três fatores para estes valores: o medo da pandemia de covid-19, o desinteresse dos eleitores e por haver um candidato favorito.
“A grande incerteza será o efeito da pandemia sobre o voto”, diz Carlos Jalali, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro. Associado a este fator, está ainda o efeito “iô-iô”. Por exemplo, explica o professor, as eleições em que Mário Soares foi reeleito em 1991 “tiveram a abstenção mais alta até essa altura”, mas esse recorde foi depois “ultrapassado em 2001”, na reeleição de Jorge Sampaio, e “ultrapassado novamente em 2011, na eleição que reconduziu Cavaco Silva”.
Além disso, desde 1991 que “o número de votantes diminui em média cerca de um milhão relativamente à eleição anterior”. “Se nesta eleição se reproduzisse essa média, a abstenção oficial seria ligeiramente acima dos 65%”, afirmou.
Pedro Magalhães, sociólogo e investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS – Universidade de Lisboa), afirmou que é “muito provável” atingir níveis de abstenção recorde por quatro motivos.
Em primeiro lugar, “há cada vez menos pessoas” a votar em Portugal. Em segundo, o recenseamento automático de eleitores no estrangeiro dá “uma estimativa mais realista de quem vota entre o real universo de eleitores”, mas “revela mais abstenção”.
“O terceiro fator é o facto de eleitores e políticos darem menos importância a eleições onde o Presidente é candidato e claro favorito. São eleições menos mobilizadoras e onde os próprios partidos e candidatos fazem menos esforços para mobilizar os eleitores”, afirmou.
O “quarto e último fator” é a situação atual da pandemia de covid-19, e “os receios e obstáculos que isso coloca à participação”, concluiu.