Apesar do Brexit, durante alguns meses ainda acreditámos que o Reino Unido (RU) poderia permanecer no programa Erasmus+, enquadrado num modelo semelhante ao adotado para vários países externos à União Europeia (UE), como por exemplo a Noruega e a Turquia. Na voz de Boris Johnson, o RU decidiu criar o seu programa de mobilidade de estudantes – Turing. No entanto, o RU deverá continuar a pagar e a participar no Horizonte Europa (2021-2027), o que lhe permitirá continuar envolvido, por mais alguns anos, em programas de Investigação e Desenvolvimento (I&D) com os estados membros da UE.
A par dos Estados Unidos, o RU é seguramente um dos países mundiais que mais estudantes internacionais atrai para as suas instituições de ensino e investigação, especialmente para as universitárias. Embora esta decisão possa não afetar instituições como Cambridge, Oxford ou Imperial College, a longo prazo a capacidade instalada de universidades menos conhecidas será certamente colocada em causa, com as consequentes perdas financeiras.
Desde 1987 o programa Erasmus tem funcionado, para todos os países envolvidos, como uma espécie de veículo de recrutamento dos melhores estudantes para as melhores universidades. Desta forma, o RU deixa de fazer parte de um mecanismo de seleção natural de muitos estudantes da UE, passando os mesmos a serem disputados desde cedo por 27+ países.
Mas as implicações desta retirada vão para além dos estudantes. Dou o meu exemplo na qualidade de professor universitário. Em função de toda a incerteza que se gerou nos últimos meses com o Brexit, e que deverá continuar, eu próprio, em função dos requisitos e condições de elegibilidade de financiamento europeu, tanto nos programas de mobilidade como nos concursos de projetos de I&D, vejo-me forçado a encontrar alternativas noutras universidades dos Estados-membros para estabelecer pontes de investigação. Assim, a partir do momento que, desde muito cedo, deixa de haver um programa de mobilidade de estudantes com o RU, a médio/longo prazo este efeito chegará certamente aos projetos de I&D.
Portanto, esta é uma retirada em que todos os países envolvidos perdem no imediato. Contudo, a médio/longo prazo há razões para acreditarmos que a generalidade dos Estados-membros da UE, incluindo Portugal, sairão a ganhar. Os novos investigadores que surgirão do pós-Brexit, bem como as condições de financiamento impostas nos projetos de I&D da UE, irão certamente redirecionar de forma natural o investimento para a fixação de mais massa crítica e a criação de mais capacidade instalada nas instituições dos estados membros.
*Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias