Há 1270 camas de cuidados intensivas ativadas no país, agora o dobro do início do ano passado (629). A semana termina com a ocupação a rondar os 90%: nas camas reservadas para a covid-19 situou-se entre 90% e 92%, agora com tendência crescente em todas as regiões, depois de Lisboa e Centro terem registado o primeiro embate. Nas cerca de 500 camas reservadas para doentes não covid, agora reduzidas a casos de urgência e cirurgias muito prioritárias, a ocupação ronda 85% a 87%.
O ponto de situação é traçado ao Nascer do SOL pelo presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos, que saúda a decisão do Governo de apertar o confinamento e espera agora que haja adesão e resultados na diminuição dos doentes. «Estamos numa situação em que a capacidade de expansão adicional existe, mas não é muito mais, e já é à custa de um esforço enorme dos profissionais, que estão no limite da capacidade de elasticidade. Este esforço já implica a cessação de atividade eletiva de prioridade normal e até prioritária, só está salvaguardada a muito prioritária. Portanto, não só é importante inverter esta tendência de crescimento de casos para evitar chegarmos a um ponto de impossibilidade de maior expansão, mas para o mais depressa possível poder repor a resposta eletiva não covid».
Sem apontar um ponto de limite, reforça a ideia: «Se rutura é ter de optar entre dois doentes críticos, não estamos lá. Se rutura é estarmos a atrasar outros tratamentos relevantes, isso é público. E é um adiamento que pode levar à agudização de alguns doentes». José Artur Paiva sublinha que, no imediato, o país tem de conseguir permanecer num patamar onde não se tem de escolher entre doente críticos: «Se cedermos nessa barreira, estamos a ceder no que é o DNA clínico e do ser humano. Não estou a dizer que não vamos chegar lá, mas é o que temos de evitar, e daí termos defendido que o confinamento não fosse o 1.0 e o 2.0 que começou por ser. É preciso perceber que só entra em medicina intensiva o doente clínico que tem potencial de reversibilidade, seja em pandemia ou fora da pandemia, mas para esses temos de conseguir ter resposta».
Sem antever que o país precise de recorrer ao estrangeiro, diz ter a esperança que seja possível responder nos hospitais, sendo certo que os resultados não serão imediatos. «Não podíamos era perder mais tempo. Ao assumir uma determinada decisão no Natal sabia-se que ia haver mais casos. Mesmo a variante era conhecida antes do Natal e, sendo mais transmissível, poderia tornar-se dominante. O confinamento, sabemos que funciona: sempre que reduzimos a mobilidade 1%, a transmissão reduz também 1%. A variante torna tudo mais difícil, mas a estratégia é a mesma».