João Ferreira não se cansou de repetir durante a campanha eleitoral que é preciso «cumprir e fazer cumprir» a Constituição da República. O candidato apoiado pelo PCP não poupou críticas a Marcelo Rebelo de Sousa e tentou contornar as limitações da pandemia com acções de campanha junto dos trabalhadores que não podem confinar.
«Há um país que está por cumprir e que está nas páginas da Constituição», disse e não se cansou de repetir o candidato comunista.
João Ferreira, que termina a campanha esta sexta-feira com uma sessão online em que serão transmitidos depoimentos de alguns apoiantes, voltou esta semana a acusar o atual Presidente da República de não estar ao lado dos trabalhadores.
«Sabemos que os seus afetos normalmente nunca penderam muito para o lado dos trabalhadores», disse, esta quinta-feira, em Leça do Balio, no concelho de Matosinhos. O eurodeputado estranha que «não haja uma palavra» do Presidente sobre o encerramento da refinaria da GALP.
João Ferreira, que foi ajustando a campanha às restrições impostas pela pandemia com algumas iniciativas online, andou pelo norte do país, nos últimos dias de campanha, em defesa dos serviços públicos. «Não há desenvolvimento sem bons serviços públicos», disse, em Gaia.
Jerónimo de Sousa entrou na campanha para defender que os poderes do Presidente, «se usados na boa direção, permitiriam, pela sua influência, assegurar políticas ao serviço do povo e do país». E acrescentou que isso não tem acontecido, «nem agora com Marcelo Rebelo de Sousa, nem antes com outros protagonistas», disse o secretário-geral comunista.
Na Marinha Grande, o líder do PCP deu a receita para combater os «projetos reacionários» e alertou que «não se combatem esses projectos se continuarmos a apostar nas políticas que dão espaço à revolta e indignação popular ou nos protagonistas dessas políticas».
Dos 13% de Carvalhas aos 3,9% de Edgar Silva
O candidato não definiu nenhuma meta, mas a espectativa entre os comunistas é que João Ferreira consiga superar o resultado das últimas eleições presidenciais. Edgar Silva, que avançou com o apoio do PCP há cinco anos, conseguiu apenas 3,9%, o que corresponde a pouco mais de 183 mil votos. Ficou em quinto lugar numa eleição em que a candidata do BE, Marisa Matias, ultrapassou os 10%. Foi o pior resultado de um candidato apoiado pelos comunistas.
Em 2011, quando Cavaco Silva foi reeleito, Francisco Lopes consegiu mais de 7% dos votos. Cinco anos antes, Jerónimo de Sousa tinha conseguido 8,6%, à frente de Francisco Louçã, apoiado pelos bloquistas. O melhor resultado de um comunista em eleições presidenciaois aconteceu em 1991: Carlos Carvalhas conseguiu quase 13% dos votos na eleição em que Mário Soares foi reeleito com mais de 70%.