Universidades à deriva

Alunos denunciam aglomerações em dias de exames nas faculdades, que terão de ajustar o calendário.

Denúncias e um grande alarido em torno da realização de exames presenciais nas universidades: tem sido este o cenário nas últimas semanas. São várias as denúncias de alunos universitários que têm surgido, principalmente nas redes sociais, através das quais mostram a sua revolta com a aglomeração de alunos que se tem verificado nos dias dos exames à porta das salas de aula – e por não ser adotado o regime online. Ao Nascer do SOL, uma aluna da Universidade Lusíada, em Lisboa, revelou que as medidas de segurança devido à covid-19 não são cumpridas e lamentou a forma como os alunos têm sido tratados.

«A universidade repudia totalmente o online para exames. Fui fazer um na terça-feira e o que aconteceu foi que houve um aglomerado à porta. Estávamos todos em cima uns dos outros. A_universidade não tem qualquer cuidado com isso e nós éramos imensos. E foram os alunos que tiveram de começar a afastar os colegas, porque a professora não quis saber», começou por relatar, dizendo não perceber a razão pela qual a universidade não adota o método online, já que «as regras não estão a ser cumpridas».

«Temos dois exames por semana e a universidade está a obrigar-nos a ir e a fazer os exames presencialmente quando alguns alunos vêm de muito longe e não sabem se estão infetados, porque podem estar. Não há medição da temperatura à porta, não há nada. Quanto ao online, dizem que os alunos podem copiar e, por isso, tem de ser presencialmente», confessou.

Agora, com o encerramento das universidades, decretado esta quinta-feira pelo Governo, durante 15 dias, diz que os alunos estão «perdidos» sem saber como vão fazer os exames a partir de agora. «Não sabemos quando vamos fazê-los, porque a universidade só quer fazer presencialmente», rematou.

Contactado pelo Nascer do SOL, o vice-chanceler das Universidades Lusíada do país, Ricardo Leite Pinto, diz que, ao contrário do que acontece com as aulas, para as frequências e exames finais, a regra adotada é a utilização do regime presencial.

«Ao termos assim decidido no início do presente ano letivo, fizemo-lo na convicção de ser esse o modelo pedagógico e científico mais adequado para uma boa formação dos nossos estudantes e, em geral, para o bom nome e credibilidade da instituição», explicou, garantindo que tudo isto foi feito «sem que se descurassem os cuidados de distanciamento, proteção e higienização fundamentais para se ter sucesso no combate à pandemia».

A presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior, Mariana Gaio Alves, admitiu a este semanário que tem recebido denúncias de alunos no sentido de haver aglomerações nos dias dos exames, à porta das salas de aula. Adiantou, porém, que ainda nenhum professor alertou para isso.

«É evidente que, se há aglomerações de alunos à entrada das salas, isso também afeta os docentes, que não têm reportado nada relativamente a isso. Aliás, em muitas instituições, as avaliações presenciais foram desdobradas para que não haja uma grande quantidade de alunos nas salas de aula», avançou. Além disso, diz não fazer sentido o facto de um exame presencial ser transposto para uma plataforma online, sendo essa uma opção com a qual não concorda.

«Há que repensar o exame, é certo, porque com este encerramento terão de ser adiados ou repensados na forma como decorrem. Não é a mesma coisa um aluno estar a fazer um exame numa sala de aula ou estar em sua casa, com acesso a tudo o que quiser», reforçou.

De acordo com as diretrizes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, porém, as universidades «devem adaptar as atividades que se encontram em curso, incluindo, quando adequado, atividades de avaliação de estudantes, para regime não presencial».

 

Momento de ajustes

No que diz respeito ao encerramento das universidades, Mariana Gaio Alves disse ainda compreender a decisão do Governo, mas alertou que terá de haver ajustes.

«Atendendo a que a maior parte das universidades e politécnicos estão em período de avaliação – porque, no primeiro semestre, as aulas já acabaram –, desde que continuássemos a seguir as normas de proteção, não era uma altura extremamente preocupante em termos de afluência de alunos às universidades. Mas compreendemos a decisão do encerramento e assim será. Vai ser necessário ajustar todas as atividades ao online e isso é que, se calhar, era mais desejável que pudesse ter sido pensado com mais antecedência», ressalvou.