A manhã de eleições presidenciais começou de forma atribulada em Belazaima do Chão, uma das maiores freguesias em termos de área do concelho de Águeda, no distrito de Aveiro.
Os populares reuniram-se em torno do centro de voto e, com as portas trancadas, protestaram a falta de pessoal médico, nomeadamente de um médico de família, na Extensão de Saúde, há mais de um ano. Esta população vê-se obrigada a deslocar-se dezenas de quilómetros até Águeda para poder receber atenção médica. Uma tarefa que não é nada fácil, devido aos escassos meios de transporte que servem a localidade serrana, que tem dois lares e possui uma população maioritariamente idosa.
Como resultado, e fruto do desagrado dos habitantes, os mesmos decidiram fazer um boicote às eleições presidenciais deste domingo, ao trancar as portas dos centros de voto da União de Freguesias. No entanto, por volta das 9 da manhã, meios policiais surgiram no local e, em conjunto com corpos dos bombeiros, começaram os trabalhos para libertar os acessos às mesas de voto. Ainda assim, a população manteve-se nos locais, a protestar as ações e a continuar o boicote.
Em declarações ao Nascer do Sol, Vasco Oliveira, presidente da União de Freguesias (UF) de Belazaima do Chão, Castanheira do Vouga e Agadão, salientou que, "apesar de não concordar com este tipo de protesto, compreende a indignação e a revolta da população". O presidente da UF realçou ainda achar que "a população, indiginada e revoltada, se virou para a parte política, porque vê que não há frutos e começa a deixar de acreditar".
Vasco Oliveira apontou o dedo às instituições governamentais da saúde como os causadores desta comoção, ao retirar inicialmente o médico de família presente na Extensão de saúde local, e mais recentemente uma enfermeira, levando mesmo a população a ficar desprovida de serviços médicos. "Temos feito várias diligências junto do presidente da Câmara de Águeda e da Associação Regional de Saúde, que nos garantiu que colocaria aqui um médico, mas até ao momento não aconteceu", lamenta Vasco Oliveira, que fez ainda um apelo: "Peço à ministra da Saúde e ao Presidente da República que nos ajude, porque temos aqui uma União de Freguesias com cerca de 90 quilómetros quadrados, maior do que muitos concelhos do nosso país, e com uma população envelhecida. Não temos condições para deslocar as pessoas para o centro de saúde [em Águeda], onde os transportes públicos são escassos."
Já Jorge Almeida, presidente da Câmara Municipal de Águeda (CMA), revelou ao Nascer do Sol o seu descontentamento com a situação da Extensão de Saúde na localidade, destacando também as promessas de colocação de pessoal médico. "Não é colocado nenhum médico, e as pessoas daquela Unidade de Saúde são aliciadas para se inscreverem noutras unidades de saúde na zona mais urbana do concelho de Águeda. Quando precisam dos cuidados médicos não têm outra alternativa, e a ideia é literalmente esvaziar a lista de utentes", referiu ainda Jorge Almeida.
Sobre o boicote à eleição, o presidente da CMA recorda que "o direito de votar é inalienável e devemos preservá-lo a todo o custo", mas admite compreender a revolta. "As pessoas veem-se completamente impotentes e com as entidades a fazer 'orelhas moucas', não vejo outra alternativa e acabo por compreender a revolta", referiu.
Recorde-se que, previamente à junção das freguesias de Belazaima do Chão, Castanheira do Vouga e Agadão, existiam três unidades de saúde na região, uma em cada freguesia. Desde a criação da União de Freguesias, no entanto, recorda Jorge Almeida, foram fechadas as unidades de Castanheira do Vouga e Agadão, ficando ainda a de Belazaima do Chão, apesar de desprovida de pessoal médico.
O presidente da CMA deixou ainda um apelo às populações para "que não impeçam quem quer votar de votar", mas confessa acreditar que, mesmo com as mesas abertas e com o caminho desimpedido, "sobretudo em Belazaima, as pessoas não vão votar, maioritariamente".
O tema da falta de pessoal médico na Extensão de saúde de Belazaima do Chão prolonga-se há mais de um ano, tendo chamado o interesse de partidos políticos como o Bloco de Esquerda, o PCP e o CDS que, entre fevereiro e março de 2020, questionaram o Governo sofre esta realidade.