A candidata presidencial Ana Gomes não conseguiu obrigar Marcelo Rebelo de Sousa a uma segunda volta. A ex-eurodeputada socialista ainda sonhou com tal hipótese, mas cedo se percebeu que iria falhar o objetivo. Mais, as projeções das várias televisões deram-lhe o segundo lugar, à frente de André Ventura, mas o apuramento de resultados foi durante duas horas contraditório com as sondagens à boca das urnas. A luta tornou-se renhida e um autêntico ioiô no apuramento de votos.
Ainda assim, a embaixadora conseguiu ficar à frente de André Ventura, outro dos seus grandes adversários da noite. E alcançou o segundo lugar.
Ana Gomes iniciou o seu discurso já depois das 23 horas. Começou por felicitar Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente reeleito, prestou tributo às vítimas da covid-19, agradeceu os votos de mais de meio milhão de portugueses e assumiu a responsabilidade dos resultados. “Não consegui o objetivo de levar a uma segunda volta nestas eleições, e a responsabilidade é só minha, assumo-a. Mas cumpri o meu objetivo patriótico de representar o campo dos democráticos europeístas e progressistas e impedir que a ultra direita atingisse uma posição de possível alternativa. Se eu não estivesse nesta disputa estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita”, atirou Ana Gomes na primeira análise do seu discurso. A embaixadora, que ficou em segundo lugar, mas falou antes de André Ventura, voltou a acusar o PS de deserção nestas eleições e apontou diretamente a primeiro-ministro.
“António Costa foi o principal responsável pela deserção do PS” afirmou a ex-eurodeputada socialista já na fase de perguntas. Antes também já tinha dado uma farpa aos demais partidos de esquerda: “As esquerdas preocuparam-se mais com as suas próprias agendas em vez de convergirem”. Contudo, agradeceu ao PAN, ao Livre e demais apoiantes, com especial destaque aos socialistas, aos deputados e às deputadas e “membros do governo” que estiveram a seu lado.
Na sua intervenção inicial, começou por lembrar que “houve quem quisesse desvalorizar as eleições presidenciais”, lamentando profundamente a deserção do PS nestas eleições. Garantindo que nunca se resignou, nem se resigna, Ana Gomes insistiu que disse presente, uma vez que a democracia não pode ficar “à mercê de forças antidemocráticas que cavalguem o descontentamento dos cidadãos”.
Assegurando que não está reformada da atividade cívica e política, também foi questionada se, daqui a cinco anos voltará: “Sei lá se estou viva daqui a cinco anos”, atirou.
As preocupações com o líder do Chega começaram cedo na noite eleitoral de Ana Gomes.
A primeira mensagem da noite foi feita por Paulo Pedroso, diretor de campanha: “Não podemos ignorar que pela primeira vez desde o 25 de Abril há ameaças sérias à Constituição que não ficam apenas no quadro da competição democrática. São um perigo e não apenas uma nova ideia”. Pedroso tinha na mente o nome de André Ventura. Seguiu-se uma noite de nervos para perceber se Ana Gomes conseguia-o o segundo lugar. Pelo caminho, um dos seus apoiantes fez algumas declarações. Ricardo Sá Fernandes, dirigente do Livre, declarou à RTP que a única certeza (pelas 21 horas) era de que Marcelo tinha ganho as eleições. Depois, lembrou que “o grande confronto entre a direita e a esquerda democrática “, esse objetivo “não foi alcançado”. O advogado também considerou que se o PS se tivesse empenhado na candidatura de Ana Gomes, poderia haver uma segunda volta. Ou seja, apontou culpas ao PS pelo desfecho eleitoral.
Pelas 22 horas, o porta-voz do PAN, André Silva, alertou para o afastamento entre eleitores e classe política. Agradeceu aos eleitores que foram às urnas e `”à coragem” de Ana Gomes, designadamente por concorrer contra “campos não democráticos”. O PAN e o Livre apoiaram oficialmente a ex-eurodeputada socialista.
Há cinco anos, dois candidatos na área socialista disputaram o eleitorado daquele partido. Sampaio da Nóvoa obteve 22,88% (1.061.390 votos), enquanto Maria de Belém só garantiu 4,24% (196.720 votos). Agora, Ana Gomes não conseguiu melhor que Sampaio da Nóvoa, por exemplo, mas foi a mulher mais votada de sempre nas eleições presidenciais.