Há quinze dias tive ocasião de me congratular com o acordo de investimentos mútuos entre a China e a UE. Foi um passo positivo no sentido de a Europa poder ‘correr o seu próprio caminho’ sem subordinações aos EUA, evitando ainda, no plano económico e social, a decrepitude por que o Império irá inexoravelmente passar. A Europa, porém, não só deve descolonizar-se externamente como, também, deverá eliminar as relações de dependência de caráter colonialista que mantém no plano interno, entre um centro ‘moderno e eficiente’ e uma periferia ‘antiquada e preguiçosa’.
Nós, Portugal, claramente estamos nesta segunda categoria, eternamente de ‘mão estendida’ pelas esmolas (e as dívidas) da sobrevivência. Desde há séculos que as nossas elites dirigentes são parasitárias; sempre viveram de rendas e tributos, nunca de mais-valias criadas com o esforço do trabalho e o engenho que caracterizaram algumas burguesias revolucionárias. O processo de 25 de Abril constituiu uma boa oportunidade para gerar essa dinâmica inovadora, com os trabalhadores e alguns estratos burgueses empreendedores. Perdeu-se, no entanto, com a entrada para a CEE, negócio através do qual as ‘novas elites’ reconstituíram a velha maneira de viver à custa de alguém: a troco de chorudas rendas (os ‘fundos’) com que passaram a alambazar-se, Portugal pouco produziria e iria ser um mero consumidor dos produtos do ‘mercado único’. Ficámos assim uma colónia!
Claro que para deixar de o ser não bastam assomos de soberba nacionalista ou bazófias inconsequentes. É claro que temos de discutir as regras que nos são impostas (e aceites pelos servos internos); é também claro que devemos arranjar aliados entre os outros povos colonizados da Europa, e não sermos ‘bons alunos’ dos países exploradores, à espera de algumas migalhas dos seus pratos; mas, fundamentalmente, temos de fazer o nosso próprio trabalho interno, isto é, estabelecer uma ampla unidade patriótica, refazer as relações como outros povos amigos de África, da Ásia e da América Latina e, principalmente, passarmos a gerir bem, à ‘burguesa eficiente’ os nossos próprios recursos internos.
Por exemplo, o Serviço Nacional de Saúde: este não é um serviço; é, antes, um conglomerado de ‘partes e peças’ sem coerência nem direção central; nem sequer é uma federação de entidades públicas de saúde; é uma ‘molhada’ de hospitais e outras unidades geridos com ampla autonomia pelos respetivos conselhos de administração/direções, sem prestarem contas a uma (duas ou três) holdings enquadradoras e disciplinadores. Por analogia com as Forças Armadas é como se estas fossem constituídas por um conglomerado de unidades militares autónomas, cada uma ‘disparando para o seu lado’, sem chefia operacional nem Estados-Maiores, isto é, um bando de bandos.
Em minha opinião, o SNS terá de obedecer a um ‘desenho geral’, a uma configuração organizacional que atenda às características das populações (quantidades, estados sanitários, ameaças, etc.), a um correto escalonamento das valências (equipamentos, recursos humanos), à integralidade dos sistemas de informação (operacionais e de gestão), à incorporação dos sistemas de formação profissional e de investigação (institutos, universidades e laboratórios), com um amplo estado-maior e comando central, muito semelhante à organização das Forças Armadas.
Por isso, a sra. ministra ‘manda muito pouco’, competindo-lhe basicamente encher a ‘vaca leiteira’ de dinheiro do orçamento para que ‘cada um’ possa engordar agarrado à sua teta.
O SNS é, como está, uma corporação (no pior sentido), dirigida informalmente pelos ‘bastonetes’ e submetida às ‘orientações’ de comentadores e de ‘fazedores de estados de alma’ das populações, disparando através da chamada ‘comunicação social’. Coitada da Marta (e de todos nós)!