As eleições presidenciais começaram com o voto antecipado, no passado domingo. Foi anunciado com pompa e circunstância que se tinham inscrito – um número recorde – 246.880 pessoas. Isto mesmo! Todos sabíamos, portanto, que tínhamos de estar preparados para que 246.880 portugueses pudessem exercer o seu direito de voto na máxima segurança possível. Como todos vimos, nada disso aconteceu. Mas parece que só nós, sociedade civil, assistimos e comprovámos pelas imagens divulgadas um total falhanço organizativo. Claramente não se conseguiu que fossem criadas as condições de segurança que evitassem a concentração de pessoas, enquanto regras básicas aplicadas à sociedade na luta contra a pandemia. Concentrar mais de 30.000 pessoas na mesma área em Lisboa não foi, seguramente, a melhor ideia. Deu no que vimos!
Infelizmente, o mesmo sucedeu em todas as grandes áreas metropolitanas em que o ato decorreu.
Portugal era no domingo passado o país no Mundo com maior número de casos de infeção de covid-19 por milhão de habitantes. Portugal era, igualmente no domingo passado, o quarto país no mundo com mais mortes pela mesma pandemia por milhão de habitantes. Exigia-se, assim e sem hesitação, rigor e exemplo. Errar é humano, mas temos políticos que vivem noutra dimensão e não viram o mesmo que nós.
O Sr. Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que tutela a CNE, ou seja, é o responsável máximo da organização das eleições, apesar de ter estado 2 horas numa fila, achou tudo absolutamente normal e, pelo contrário, até viu nos perigosos ajuntamentos um grande empenho dos portugueses na participação democrática, um entusiasmo que manifestava a alegria do voto.
Escreveu Voltaire: «Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram». Os portugueses mereciam mais respeito. Os portugueses que morreram mereciam todo o seu respeito. Esperamos que desta vez – mais uma – em que não teve a humildade de reconhecer o erro grosseiro, assuma as consequências políticas.