Portugal vai voltar a crescer ao ritmo de 2019 apenas a partir do último trimestre de 2022. A convicção é de Mário Centeno que, em entrevista na RTP3, admitiu que, neste momento, o contexto pandémico contribui para “mais incerteza sobre o curto prazo” do que com o médio/longo prazo.
O Governador do Banco de Portugal admitiu que o novo confinamento terá deitado por terra a previsão de uma evolução nula da economia portuguesa no primeiro trimestre de 2021, embora tenha acrescentado que a economia portuguesa vai ter capacidade para obter melhores resultados neste segundo confinamento, em comparação com o primeiro. A confiança assenta, sobretudo, no comportamento da economia no quarto trimestre do ano passado, que viu a previsão ser revista em alta – as primeiras estimativas vão, no entanto, apenas ser apresentadas na próxima semana pelo Instituto Nacional de Estatística. Ainda assim, Centeno sempre foi adiantando que os resultados permitem partir de uma “base melhor” para uma fase de recuperação económica durante 2021.
O ex-ministro das Finanças do Governo de António Costa explicou que, a partir de final de novembro de 2020, manifestou-se “uma capacidade de adaptação das economias, das empresas e dos trabalhadores” ao contexto da pandemia, o que permitiu melhores resultados neste período. “As previsões revelaram-se mais pessimistas do que o quarto trimestre acabou por ser”, explicou.
Fazendo um balanço dos últimos meses, e pese as dificuldades, Mário Centeno considerou que “a economia tem reagido às diferentes fases da pandemia de forma positiva”, justificando esse cenário com “a eficácia” das políticas adotadas pela União Europeia e pelos Estados-membros.
Centeno admite malparado com moratórias. Mário Centeno confirmou que “os bancos aguentam manter estas moratórias tal como estão desenhadas” em 2021, mas admitiu que pode vir a existir um cenário de crédito malparado a partir de setembro, data em que está previsto o final do prazo deste mecanismo de apoio às empresas e famílias.
O Governador do Banco de Portugal recordou que o valor das moratórias – que, neste momento, atinge os 46 milhões de euros (24 milhões de empresas e 22 milhões de famílias), o equivalente a um quinto das carteiras de crédito dos bancos – são para pagar, mas, ainda assim, deixou uma mensagem de confiança, baseada no aumento da poupança verificado neste período.
“A poupança cresceu em Portugal, é um contraste com o que aconteceu na crise de 2008”, disse. Centeno afirmou ainda que “aprendemos muito com a crise financeira anterior, há muita precaução”, considerando que vão existir condições para que empresas e famílias cumpram o pagamento dos créditos,
Segundo Centeno, a poupança aumentou em Portugal no período da pandemia de 7% para 13,4%. Os depósitos das empresas cresceram 10% e os das famílias 7,3%. “Esta almofada financeira existe e pode fazer face às necessidades no período de recuperação económica”, referiu.