Os telefones não pararam de tocar nos últimos dias entre militantes e dirigentes do CDS. O resultado de André Ventura, líder do Chega, nas eleições presidenciais, e a votação no candidato da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, foram o ponto de partida para um processo de contagem de espingardas no partido. Adolfo Mesquita Nunes, antigo vice-presidente do CDS, foi o primeiro a assumir que pretende um congresso extraordinário. Ligou a alguns conselheiros do CDS a avisar que iria publicar um artigo de opinião no Observador a defender isso mesmo. Quem o ouviu percebeu que era o sinal para uma contenda interna e que o ex-dirigente não pedia licença para lançar o desafio a Francisco Rodrigues dos Santos.
O artigo de opinião de Adolfo Mesquita Nunes surpreendeu a direção de “Chicão”, mas o pior estava para vir. Menos de 24 horas depois, o primeiro vice-presidente do CDS, Filipe Lobo d’Ávila, demitia-se da comissão executiva. A saída de Lobo d’Ávila traduziu-se em mais duas baixas no núcleo de Francisco Rodrigues dos Santos. Saíram também Raul Almeida, ex-deputado, e a dirigente Isabel Menéres Campos, ambos vogais da equipa. Com estas demissões, Rodrigues dos Santos perde parte da sua base de apoio, obtida no congresso há um ano. O movimento Juntos pelo Futuro teve 14,5% dos votos na reunião magna dos centristas há um ano, encabeçada por Lobo d’Ávila, e foi determinante para Francisco Rodrigues dos Santos chegar à liderança. Agora, o quadro mudou.
Lobo d’Ávila escreveu uma carta a Rodrigues dos Santos para dizer que “o CDS tem hoje um problema de afirmação externa que importa enfrentar”. Pior: “Infelizmente, e por muito que me custe dizê-lo, o CDS de hoje não risca”. O dirigente demissionário está fora de qualquer corrida interna e lembrou que procurou ajudar, mas agora conclui: “Não consegui mais. Não consigo mais”.
Raul Almeida, por seu turno, disse à Lusa que o “partido manifestamente não está num ciclo positivo, está a atravessar uma crise profunda”, e que se trata de uma “conjugação de fatores”.
Ao i acrescentou ainda uma nota pessoal, defendendo que “só uma síntese” entre as várias sensibilidades do CDS e “com forte responsabilidade” podem “salvar o CDS”.
Entretanto, Nuno Melo, eurodeputado do partido, disse numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença que admite concorrer à liderança em 2022. Ou seja, estará disposto a entrar na corrida, mas não no tempo e no modo de Mesquita Nunes. Pelo caminho há outro dado a reter: nos bastidores do CDS há movimentações para fazer regressar Manuel Monteiro, antigo líder do CDS, à liderança do partido, apurou o i junto de várias fontes centristas.
Por sua vez, o deputado João Gonçalves Pereira escreveu no Facebook: “Afinal, começam cada vez mais dirigentes e militantes do CDS-PP a dizer aquilo que ando a dizer há muitos meses sobre a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos. Isso é positivo! “Ainda vamos a tempo”. Ora, o “ainda vamos a tempo” foi uma frase usada por Mesquita Nunes para pedir uma mudança.