Ao décimo período de Estado de Emergência, quando Portugal se encontra na circunstância de ser o país do mundo com os piores indicadores nesta pandemia, tornaram-se incontornáveis os erros e as suas consequências que, infelizmente, se medem em óbitos.
Hoje é claro que era possível fazer melhor no combate à pandemia. Nas medidas que foram tomadas, na forma e no tempo.
Quando se verificou a segunda vaga, apesar dos alertas, o Governo não tinha preparado a resposta. Agora, em plena terceira vaga, o cenário repete-se de forma indesculpável e os resultados estão à vista.
Recentemente, quando se apelava à responsabilidade dos cidadãos, deram-se sinais equívocos ou até contraditórios que contribuíram para a hesitação e dúvidas na atitude da população.
Desde logo, a resistência em assumir a necessidade e urgência do confinamento, protelando o inevitável, depois, os avanços e recuos relativamente à questão que ficou conhecida como o tema dos postigos, logo depois a questão do encerramento das escolas que demorou tempo demais a concretizar-se.
A questão do encerramento das escolas foi muito significativa sobre o desacerto do Governo. Apesar da evidência dos dados sobre o aumento das infeções nos escalões etários em idade escolar, mesmo com o consenso científico sobre a inevitabilidade e urgência de encerrar a atividade escolar presencial, o Governo resistiu e tardou a implementar. E quando o fez descobriu-se que foi a incompetência que condicionou o adiamento na tomada de decisão. Quando se levantou a possibilidade de aulas à distância, ficou exposta a incapacidade do Governo em cumprir a promessa de preparação deste regime em tempo útil.
Agora, anuncia-se a decisão de suspender, primeiro os voos para o Reino Unido, quando vários países tomaram essa decisão ainda em dezembro, logo de seguida, os voos do Brasil, quando, por exemplo Itália, já os tinha suspendido há mais de duas semanas. Porquê tanto tempo para reagir?
A situação é de facto indesculpável. O Governo tem beneficiado do suporte e até do incentivo do Presidente da República e tem contado com a atitude responsável e mesmo com a cooperação do maior partido da oposição e, em particular, do seu líder.
O PSD tem conduzido a atual situação de forma exemplar, criando todas as condições para o Governo tomar todas as medidas que considera necessárias, mas mais, com uma atitude construtiva, dando os contributos que entende que podem acrescentar à ação do Governo.
As renovações do Estado de Emergência contaram sempre com o voto favorável do PSD, aliás, o único partido que, além do partido socialista, votou sempre a favor. As medidas tomadas pelo Governo tiveram sempre o incentivo do PSD e, muitas vezes, a sua sugestão antecipada.
Esta postura do líder do PSD chega até a ser criticada, mesmo internamente, por recusar utilizar o tema da pandemia para fazer oposição ao Governo. Mas sem dúvida que é a única atitude responsável perante uma calamidade que afeta todo o país.
No entanto, o que se tem observado, não tanto pelo primeiro-ministro, mas por ministros deste Governo é, por insólito que pareça, uma agressividade e necessidade de ataque ao PSD, mesmo quando este procura colaborar neste combate.
Perante o descontrolo da pandemia e os erros na gestão da crise, mesmo não mudando a atitude de responsabilidade e disponibilidade para permitir todas as condições na tomada de medidas de combate à pandemia, um ‘murro na mesa’ impunha-se. Não para inaugurar, por parte do PSD, o aproveitamento político desta crise, mas para exigir uma melhor prestação por parte do Governo. Veremos se é suficiente para que os erros sejam corrigidos e outros sejam evitados. O sucesso medir-se-á, infelizmente, em mortes.
António Prôa