«Soluções de recurso como o envio de doentes para o estrangeiro só são lícitas depois de ter sido mobilizada toda a capacidade máxima do país na resposta de medicina intensiva». O apelo é do presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos José Artur Paiva. Esta sexta-feira subiu para 806 o número de doentes com covid-19 internados em UCI e as projeções continuam a apontar para um agravamento nas necessidades no país, podendo chegar aos 900 doentes na próxima semana. Ao Nascer do SOL, José Artur Paiva adianta que a taxa de ocupação no Norte ronda os 91% e em Lisboa os 95%, níveis «preocupantes» quando em medicina intensiva os 85% são considerados como patamar de segurança e menos sobrecarga no tratamento dos doentes. E é nesse sentido que reforça que toda a capacidade seja expandida ao máximo nos hospitais, com a suspensão de atividade cirúrgica programada normal e prioritária, por forma a que o sistema possa responder às necessidades de tratamento dos doentes críticos que não podem esperar. «Se dizemos que as próximas duas semanas são mais críticas da pandemia também são estas semanas em que temos de por todos os recursos a contribuir», diz, recordando que nos últimos meses a capacidade de resposta em medicina intensiva aumentou no país mas a expansão foi maior no Norte. Sem referir nenhuma situação em concreto, sublinha que a preocupação deve ser mobilizar todos os recursos possíveis. «Não vai haver outra oportunidade para fazermos o que temos de fazer, que é suspender atividade programada. Não é parar por parar, é parar tudo o que possa contribuir para o aumento de infraestruturas e recursos humanos ao serviço da medicina intensiva, como blocos cirúrgicos ou áreas de recobro que possam ser ainda mobilizadas».
Esta sexta-feira o Ministério da Saúde anunciou as primeiras transferências de doentes críticos para a Madeira, dois do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, e um do Centro Hospitalar Lisboa Central, que serão tratados no Hospital do Funchal. José Artur Paiva considera positiva a transferência em território nacional, sublinhando que o trabalho em rede é essencial e que no país, se uma região estiver numa situação mais difícil, nenhuma pode estar bem. Insiste por isso que estas soluções, também pelo impacto nas famílias, devem ser equacionadas com todos os recursos mobilizados ao máximo.