Petição pública pede um milhão de testes por semana

O objetivo imediato não seria «rastrear contactos secundários dos infetados assintomáticos que se encontre. O objetivo é antes o de esses infetados serem imediatamente isolados com um teste positivo. O rastreio epidemiológico eficaz só é verdadeiramente possível quando baixarmos dos 1000 casos diários e ele está já esgotado», defende Pedro Ribas Araújo.

Uma petição pública lançada pelo movimento cívico INFO | Covid-19  em defesa de uma mudança radical na estratégia de resposta à covid-19 no país chegou esta semana às 4500 assinaturas e a proposta concreta para que o país não fique paralisado pela covid-19 nos próximos meses já foi entregue ao Presidente da República e ao Governo. «Os testes rápidos são a solução para contornar a escassez das vacinas para a Covid 19 e reduzir drasticamente a transmissão até à primavera», defende a iniciativa, que propõe a implementação de uma estratégia de rastreio nacional e regular com testes rápidos, com periodicidade semanal. E uma escalada da capacidade de testagem no país dos atuais 60 mil testes por dia para 250 mil, ou seja um milhão de testes por semana, o que permitiria detetar e isolar mais pessoas infetadas mesmo assintomáticas que continuam a circular, ao mesmo tempo que o sistema de rastreio epidemiológico de contactos fica bloqueado pelo número elevado de casos diários e vai tornando mais difícil travar pela via normal as cadeias de transmissão.

Pedro Ribas Araújo, engenheiro e impulsionador do movimento, explica ao Nascer do SOL que ao longo dos últimos dias foram muitos os contactos, inclusive com a indústria farmacêutica e laboratórios, e acredita que existe capacidade para escalar o número de testes com a intervenção de laboratórios e farmácias, que têm também vindo a certificar-se para fazer testes rápidos. «Existe capacidade para fazer um milhão de testes, não tenho dúvidas, porque já contactei entretanto os laboratórios e têm capacidade e claramente me dizem que conseguem fazer cinco vezes mais testes sem problema nenhum. O problema não são os testes, o bottleneck aqui é o sistema telefónico e o rastreio epidemiológico, que está completamente esganado, e é por isso que a taxa de positivos chega aos 20%», diz Pedro Ribas Araújo, argumentando que esta estratégia não implicaria sobrecarregar ainda mais o sistema.

O objetivo imediato não seria «rastrear contactos secundários dos infetados assintomáticos que se encontre. O objetivo é antes o de esses infetados serem imediatamente isolados com um teste positivo. O rastreio epidemiológico eficaz só é verdadeiramente possível quando baixarmos dos 1000 casos diários e ele está já esgotado», defende. 

Perante o atual confinamento, propõem que os testes deveriam começar por ser disponibilizados a quem não pode ficar em casa. «Na verdade, este confinamento oferece uma oportunidade que não podemos desperdiçar, porque reduz a quantidade de pessoas em circulação (e assim aliviando a quantidade de testes a serem realizados). No entanto, é, ainda assim, muita gente que de outra forma continuará a propagar a doença», diz.

Na fase seguinte, quando o país começasse a desconfinar, «o plano estender-se-ia às restantes pessoas em circulação, em concelhos acima de um risco/prevalência a definir».

Pedro Ribas Araújo diz ao Nascer do SOL que até ao momento a resposta à missiva enviada a Belém e ao Executivo foi ter sido encaminhada para o Ministério da Saúde. Questionado por este jornal, o gabinete da Marta Temido não respondeu até ao fecho desta edição se esta proposta está a ser equacionada.

Segundo os dados disponibilizados esta sexta-feira pelo ECDC, que o Nascer do SOL analisou, na última semana, Portugal, apesar de ser o país com maior incidência de novos casos de covid-19, surge em sexto lugar em termos de testes por 100 mil habitantes, tendo subido nas últimas semanas. A taxa de positividade, de 17,7% quando se têm em conta só os primeiros testes, era a mais elevada da UE. Na semana de 18 a 24, o país fez 4374 primeiros testes por cada 100 mil habitantes. Na Áustria e Dinamarca, os países da UE que mais estão a testar e têm uma incidência de covid-19 seis vezes menor que a portuguesa (em torno de 200 casos por 100 mil habitantes a 14 dias contra perto de 1500 em Portugal), fazem-se cinco vezes mais testes – a positividade está em ambos os países abaixo de 1%.