Os quatro anos da presidência de Donald Trump vão deixar uma marca duradoura nos Estados Unidos, seja pela forma como criou conflitos internos seja no capítulo das relações internacionais. Mas assim que assumiu o poder Joe Biden começou a trabalhar para apagar esse legado do seu antecessor.
Entre as medidas e ações tomadas na sua primeira semana como líder dos Estados Unidos, Biden apresentou mudanças no exército, ligou ao Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que iria monitorizar a situação do controverso caso da GameStop em Wall Street e até voltou a agraciar a residência presidencial com a presença de animais de estimação, ao instalar os seus dois cães, Champ e Major, nos sete hectares da Casa Branca, uma tradição com mais de cem anos que tinha sido interrompida por Trump.
O Presidente dos Estados Unidos começou a semana por revogar a proibição, implantada por Trump no primeiro ano do seu mandato, que decretava que pessoas transgénero não podiam fazer parte das Forças Armadas. «É simples», escreveu Biden no Twitter. «A América é mais segura quando todos os qualificados para servir o fazem abertamente e com orgulho».
Ainda na área das forças armadas, a Administração congelou e vai rever os acordos para venda aos Emirados Árabes Unidos de caças F-35, aprovados por Trump no final do seu mandato.
Refazer o plano de saúde
Biden assinou uma ordem executiva para reabrir os mercados de seguros na área da saúde, que o Governo de Trump se tinha negado a realizar, para atender às situações de emergência causadas pela pandemia de covid-19.
Esta medida é baseada na lei de saúde do ex-Presidente Barack Obama, o Affordable Care Act, que prevê que os mercados de seguros ofereçam cobertura subsidiada pelos contribuintes, independentemente do histórico médico da pessoa ou de doenças preexistentes, incluindo a covid-19.
Esta medida servirá para atingir a meta de cobertura de seguros de saúde para todos os norte-americanos. No entanto, conseguir a aprovação não será tarefa fácil, uma vez que Biden precisará do consentimento do Congresso, uma tarefa difícil, uma vez que os republicanos têm muitas reservas sobre os planos de saúde de Obama.
O novo Presidente reverteu também a política federal, conhecida como Política da Cidade do México, que proíbe o financiamento de organizações sem fins lucrativos de saúde internacionais que oferecem aconselhamento ou encaminhamento para o aborto.
Em relação à covid-19, Biden, que estabeleceu como objetivo conseguir 150 milhões de vacinas nos primeiros 100 dias da sua presidência, anunciou, na quarta-feira, que o Governo vai comprar 200 milhões de doses adicionais das duas vacinas contra a covid-19 que receberam autorização de uso no país, as das farmacêuticas Pfizer e Moderna.
Fim da ‘tolerância zero’ para imigrantes
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou, esta terça-feira, que rescindiu a política de «tolerância zero» para aqueles que cruzassem a fronteira com o México ilegalmente e que provocou a separação de milhares de famílias imigrantes. Ainda foi anunciado que os imigrantes em situação ilegal também serão incluídos no plano de vacinação para a covid-19 no país, afirmou a porta-voz da Casa Branca, e vão passar a ser incluídos nos censos dos Estados Unidos.
Luta pelo clima começa na frota elétrica
Uma das grandes bandeiras da campanha de Biden foi a luta contra o aquecimento global e as alterações climatéricas e o Presidente não tardou a implementar medidas, como a substituição de todos os veículos federais, que começará pela substituição da frota da Casa Branca por veículos elétricos.
O Presidente prevê que, no total, a renovação irá garantir a criação de 1 milhão de novos empregos, uma vez que a frota federal, entre carros, carrinhas e camiões, é composta por mais de 645 mil veículos, que serão substituídos por outros produzidos no país.
Biden, esta semana, ainda anunciou uma moratória sobre a perfuração de petróleo em terras e águas federais e a organização, por parte dos Estados Unidos, de uma cimeira sobre o clima, no dia 22 de abril, que coincide com o quinto aniversário da assinatura do Acordo de Paris, ao qual os EUA regressaram poucas horas após a tomada de posse.
A conversa com Putin
O Presidente norte-americano já falou com o seu homólogo russo, Putin, e não foi uma simples e cordial conversa.
Um dos principais temas de conversa foi a detenção do opositor de Putin, Alexei Navalny, e a repressão de manifestantes pacíficos com recurso a violência pelas forças policiais. Biden fez saber a Putin que condenava estes atos.
Ao contrário do seu antecessor, Biden mostrou que pretende aumentar a pressão sobre Putin, enquanto, ao mesmo tempo, quer preservar espaço para a diplomacia entre os dois países, numa altura em que se aproxima o fim da vigência do tratado de controlo de armas nucleares entre os dois países (termina no início do próximo mês).
Outro assunto sensível abordado foram os ataques cibernéticos que a Rús-sia lançou aos Estados Unidos, tendo o Presidente dos Estados Unidos informado Putin que a sua administração está a avaliar o impacto do ataque cibernéti-co SolarWinds, que penetrou nos sistemas informáticos de diversos departamentos do Governo norte-americano, incluindo o do Tesouro.
Em relação às alegadas interferências russas nas eleições norte-americanas de 2016 e 2020, que resultaram na vitória de Trump, Biden afirmou ter provas concretas do ataque russo.
Biden assegurou que os Estados Unidos podem retaliar, através de sanções, para se assegurarem de que a Rússia não comete tais atos com impunidade.