Por Filipa Chasqueira
Só agora se tornou claro por que as escolas fecharam tão tarde. É que, apesar de ter sido garantido no início do ano letivo (setembro do ano passado) que «aconteça o que acontecer» estará «assegurada a universalidade de acesso à plataforma digital, rede e equipamento, de todos os alunos», ainda estamos longe de alcançar esse objetivo. Dada a pressão exercida por vários especialistas e sobretudo pelos números a aumentar vertiginosamente, não se podia continuar a adiar o fecho das escolas. Foi então que teve de ser tomada uma decisão inesperada: apesar de terem voltado das férias de Natal duas semanas antes, os alunos iriam entrar numa nova interrupção escolar, porque a escola tinha mesmo de fechar, mas a promessa que assegurava o retorno do ensino online do público não tinha sido cumprida.
A suspensão das atividades letivas, atenção, até poderia fazer sentido, se realmente as escolas necessitassem de ficar fechadas só por 15 dias. A experiência do ano passado mostrou-nos que, apesar da boa vontade e esforço de todos, o ensino à distância ficou muito aquém do presencial. Acontece que não era preciso ser um grande especialista para saber que esses 15 dias jamais seriam suficientes. Até o meu filho de 11 anos, quando eu lhe disse que ia estar de férias durante 15 dias, perguntou: «E quando começam as aulas pelo Zoom? Da outra vez também eram só 15 dias…». Já todos sabíamos que o ensino à distância ia voltar, só ninguém entendeu qual o benefício desta pausa de 15 dias. Porque não existe.
Os alunos foram imensamente prejudicados com o ensino não presencial, a maior parte da matéria ficou por dar e neste momento em muitas escolas ainda estavam a ser feitas revisões e a ser dada matéria do ano passado. Quando defendemos a igualdade temos de apoiar e ajudar os mais desfavorecidos a criar condições que os coloquem no mesmo nível dos que estão numa situação mais favorável e não puxar os mais favorecidos para baixo. Até porque o ensino não presencial será sempre injusto e desigual – o apoio e contexto em cada casa serão necessariamente diferentes, tanto para os alunos do público como do privado – e estar no privado não é sequer sinónimo de acesso garantido a equipamentos informáticos, sobretudo quando têm de ser partilhados com os pais e irmãos.
Todo este cenário desnecessário só veio acentuar as diferenças entre o ensino público e privado e criar desavenças, guerras e trocas de insultos absolutamente desnecessários entre pais com filhos nas diferentes situações. Alguns deles até amigos.
Dia 8 de fevereiro as escolas retomam o ensino on-line. Não é o ideal mas é o possível. Já sabemos que os alunos têm sido muito prejudicados a todos os níveis, que os pais estão assoberbados com o trabalho laboral, da casa, dos filhos e saturados de tudo isto, mas neste momento não há uma solução melhor. Temos de juntos lutar para que não haja mais perdas de vidas de pais, filhos ou avós. Essas sim, são irrecuperáveis. Esperemos voltar à normalidade o mais cedo possível e que os alunos possam recuperar quase tudo o que perderam durante estes meses. Até lá, o mais importante é andar para a frente, com tranquilidade e sem zangas ou clivagens entre escolas, pais ou alunos, sabendo que estamos todos a fazer o melhor possível. Neste momento, só nós, pais, podemos garantir o que fará realmente diferença nas nossas crianças e no seu futuro, dando-lhes segurança, tranquilidade, estabilidade, amor, carinho, atenção e confiança.