Dias após derrubar o Governo democraticamente eleito de Aung San Suu Kyi, uma antiga prémio Nobel da Paz que caiu em desgraça por ignorar o genocídio dos rohingya, os militares birmaneses bloquearam o Facebook, a rede social mais utilizada no país, supostamente para proteger a "estabilidade". Ou talvez se trate de uma medida para suprimir a crescente contestação no Myanmar, onde aumentam os movimentos de desobediência civil e os panelaços contra o golpe de Estado de segunda-feira.
Num país onde mais de metade da população usa o Facebook, muitos dependem desta aplicação para ter sequer acesso à internet. É que o gigante tecnológico permite que a aplicação seja usada sem gasto de dados móveis no Myanmar, para contrabalançar os preços elevados praticados pelas operadoras móveis nacionais.
"As pessoas à minha volta estão apressadamente a fazer download de aplicações alternativas ou VPN's", contou Anthony Aung, um operador turístico em Rangum, a maior cidade do país, à BBC. Também era no Facebook que se organizavam muitos dos movimentos contestatários ao golpe, que terão de procurar novos meios de comunicar.
Ninguém tem dúvida que a tomada de poder pelos militares, que controlaram totalmente o país durante meio século, até aceitarem um Governo parcialmente civil, em 2011, é profundamente impopular. Aliás, a justificação do golpe foi uma suposta "fraude" eleitoral nas eleições de novembro, por parte do Partido União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP), associado aos militares, que obteve uns meros 7% dos votos; já o partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional pela Democracia (NDL), obteve mais de 80% dos votos.
"Nós batemos tambores porque queremos que o Governo militar e o mundo saibam que não concordamos com este golpe militar", explicou uma das mulheres que saiu à rua de panela na mão, em Rangum, onde todas as noites se têm ouvido protestos. "Nós queremos de volta a nossa líder, Aung San Suu Kyi", declarou a manifestante, ao canal britânico.