Há muito que se nota uma certa reabertura da economia de Cuba, após meio século de Governo pelo regime socialista inaugurado por Fidel Castro. Contudo, este sábado, confirmou-se a mais significativa reforma dos últimos anos, com a expansão da lista de atividades económicas permitidas de 127 para mais de duas mil, permitindo que muitos setores saiam do mercado negro. Daqui em diante, o foco do Estado serão setores que consideram estratégicos, como a Defesa e a Saúde, assegurou o Governo à France Press.
Esta reforma surge quando Cuba – uma ilha com 11,2 milhões de habitantes, isolada há décadas, devido a um pesado bloqueio norte-americano – enfrenta uma situação económica ainda mais complicada que o habitual. Face à pandemia, a economia contraiu uns 11% em 2020, o pior resultado em quase três décadas, tendo entrado no país só 55% da moeda estrangeira esperada, admitiu o ministro da Economia, Alejandro Gil, citado pela Reuters, no final do ano passado.
Face a estas dificuldades, as medidas do Governo de Miguel Diaz-Canel “correspondem ao aperfeiçoamento do trabalho por conta própria”, explicou o diário oficial Granma. Não é por acaso que, há uns seis meses, se permitiu que pequenos negócios cubanos pudessem importar e exportar produtos, sempre através de empresas estatais.
Neste momento, uns 600 mil cubanos, cerca de 13% da população ativa, estão empregados no setor privado – sem incluir centenas de milhares de pequenos agricultores. Trata-se de um aumento enorme em relação aos 478.000 trabalhadores independentes registados em 2014.
O grosso do dinheiro no privado tem vindo de setores como o turismo, a gastronomia e os serviços – nos últimos anos, muitos cubanos aproveitaram a oportunidade para criar pequenos negócios de artesanato, como taxistas ou comerciantes. Contudo, são tudo áreas que estão entre as mais afetadas pela quebra no número de turistas da ilha, devido à pandemia.
As oportunidades para trabalhar por conta própria em Cuba cresceram em 2015, quando as relações entre Havana e Washington desanuviaram, com Raul Castro e Barack Obama a restabelecer relações, algo que aumentou o número de visitantes vindos dos Estados Unidos.
Já o sucessor de Obama, Donald Trump, pôs fim a esses avanços, reapertando sanções. Talvez esta recente reforma económica em Havana, que coincide com os primeiros momentos da Administração de Joe Biden, sucessor de Trump, seja também um sinal a Washington, de disponibilidade para negociar.