Vários bispos católicos angolanos denunciaram, no início da semana, um «grave massacre» em Cafunfo, cidade no nordeste de Angola, na região da Lunda.
Segundo relatos partilhados nas redes sociais, as forças angolanas dispararam contra manifestantes desarmados que pertenciam ao Movimento do Protetorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT), provocando 15 mortos e 10 feridos.
A manifestação foi marcada para assinalar o 127.º aniversário do reconhecimento internacional do tratado de protetorado português da região de Lunda e exigia melhores condições de vida. A Lunda clama por independência há décadas, mas o governo angolano rejeita por completo a ideia.
O presidente do MPPLT, José Mateus Zecamutchima, afirmou que o número de mortos não é definitivo – ainda há muitos desaparecidos, nomeadamente pessoas que fugiram para as matas. Entre as vítimas mortais encontra-se o filho de um secretário regional da organização.
Já as autoridades policiais apresentam outra versão dos acontecimentos. Defendem que nos confrontos, alegadamente desencadeados por uma tentativa de invasão de uma esquadra, «apenas» ocorreram seis mortes.
O comandante-geral da Polícia Nacional de Angola, Paulo de Almeida, disse, esta terça-feira, que a resposta violenta foi em autodefesa. E avisou que «aqueles que tentarem invadir as esquadras ou qualquer outra instituição para tomada de poder, vão ter resposta pronta, eficiente e desproporcional da Polícia Nacional».
«Você está a atacar o Estado angolano com faca, ele responde-te com pistola, se você estiver a atacar com pistola ele responde com AKM, se você estiver a atacar com AKM, ele responde com bazuca, se você estiver a atacar com bazuca, ele responde com míssil, seja terra a terra, terra-mar ou ainda que for um intercontinental, vai dar a volta depois vai atacar», disse o comandante-geral.
O que é o MPPLT?
O Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe luta pela autonomia da região das Lundas, baseando-se num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Contudo, este acordo terá sido ignorado quando Portugal negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, acusa o MPPLT.
O Estado angolano não reconhece as pretensões do MPPLT, defendendo a unidade territorial do país.
Além da questão histórica e territorial, existem motivações de ordem económica, uma vez que a região é rica em diamantes.