história parece estar a mudar. Nas últimas quatro edições da Copa Libertadores houve três vencedores brasileiros – Grémio, Flamengo e Palmeiras, estes dois últimos comandados por treinadores portugueses, Jorge Jesus e Abel Ferreira –, e finalmente a contabilidade equilibra-se, com os argentinos a somarem 25 títulos no conjunto de todas as suas equipas, e os brasileiros a chegarem aos 20.
A verdade é que desde a primeira edição da prova, em 1960, houve sempre uma grande dificuldade para as equipas do Brasil se imporem. Durante dezasseis anos só o Santos de Pelé pôs fim a essa espécie de maldição, ganhando as edições de 1962 e 1963.
Aos 22 anos, Edson Arantes do Nascimento já era, incontestavelmente, o melhor jogador do mundo. Restava agora à sua equipa de sempre demonstrar que era digna disso. E tratou de o demonstrar naquela que correspondia à Taça dos Campeões da América do Sul. Foi um verdadeiro arregaçar de mangas. Após as duas conquistas iniciais do Peñarol, de Montevidéu, o Santos surgiu como um furacão branco.
Ao tempo, só eram apurados os campeões de nove países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai. Um décimo posto foi atribuído ao campeão uruguaio, o Nacional, já que o Peñarol entrava na defesa do título.
Na primeira fase, jogada em grupos, o Santos desfez positivamente os seus adversários: Cerro Porteño, do Chile (9-1 e 1-1), e Deportivo Municipal, da Bolívia (6-1 e 4-3). O poder ofensivo dos santistas era impressionante. Com a linha ofensiva que soava como um samba, Dorval, Mengávio, Coutinho, Pelé e Pepe, trucidava opositores com a facilidade com que Chico Buarque cantava – «No contrapé/Para avançar na vaga geometria/O corredor/Na paralela do impossível, minha nega/No sentimento diagonal/Do homem-gol/Rasgando o chão/E costurando a linha…».
O jogador preferido do Chico estava lá, também. Era Pagão. E foi a ele que a canção O Futebol foi dedicada. Um goleador impressionante, infelizmente sempre perseguido por lesões a esmo. Nessa edição da Libertadores fez três golos, menos três do que o artilheiro da prova – Coutinho.
Tempestade branca
Nas meias-finais, o Santos defrontou o Universidade Católica do Chile. As coisas complicavam-se, naturalmente. Mas depois de um empate no Estádio Nacional de Santiago (1-1), a vitória em Vila Belmiro, por 1-0, golo de Zito, atirou a equipa para a final a duas mãos com o Peñarol, até aí único vencedor da prova. Depois de ter ido ao Centenário surpreender os uruguaios – 2-1, golos de Coutinho – os santistas deixaram-se bater, por sua vez, em casa – 2-3. A regra dos golos fora ainda não se impunha. Tudo se decidiu numa finalíssima marcada para terreno neutro, o Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. E aí a tempestade branca varreu o antigo campeão – 3-0, com um golo de Caetano, na própria baliza, e dois de Pelé. Na época seguinte, o Santos repetiu a vitória, resolvendo a final frente aoBoca Juniors (3-2 e 2-1). A partir daí desapareceu. Trocou os títulos pelas exibições. Passou a ser uma espécie de globetrotters percorrendo o mundo para exibir o brilho das suas estrelas. Por muito dinheiro.