"Se é certo que a ciência respondeu e conseguimos ter uma vacina muito rapidamente, se é certo que conseguimos também ter aprovações relativamente às vacinas num período relativamente célere, o que é facto é que a capacidade produtiva destas companhias não está a responder ao nível que desejaríamos", afirmou a ministra da Saúde durante a audição, esta quarta-feira, na comissão parlamentar de Saúde.
As declarações de Marta Temido partilham assim das preocupações expressas pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, no debate sobre a estatégia da UE sobre a vacinação, quando disse: "talvez tenhamos mostrado uma confiança de que o produto iria chegar atempadamente e, portanto, temos de tirar ilações", reforçando que o bloco comunitário "subestimou as dificuldades da produção em grande escala destas vacinas", após polémicas com as farmacêuticas.
Na audição da comissão parlamentar da Saúde, Marta Temido realçou que Portugal tem “uma responsabilidade especial” neste tema, pois assume a presidência da União Europeia atualmente.
"Por isso temo-nos colocado à disposição de todos os Estados-membros e da Comissão (Europeia) para exercer o nosso papel de facilitadores daquilo que são consensos", como "ter acesso às vacinas disponibilizadas aos europeus e ao maior número de cidadãos do mundo o mais rapidamente possível", explicou Marta Temido.
Em resposta à declaração do deputado do Bloco de Esquerda, Moisés Ferreira, sobre a questão das patentes, a governante disse que este “é um tema que tem sido muito discutido".
"Mas a questão que se coloca é que a quebra das patentes não nos iria resolver o problema de capacidade produtiva e de capacidade industrial e, portanto, quando muito ficaríamos com a possibilidade de ter uma fórmula para fabricar, mas continuaríamos a não ter onde a fabricar e essa é a nossa dificuldade", esclareceu.
Para Marta Temido, "a posição da Presidência [da UE] é sempre uma posição de coordenação e de união e trabalho com aquilo que são os mecanismos de segurança e previsibilidade, que também exigem um relacionamento, por isso temos insistido na colaboração entre várias companhias para suprir falhas", reforçou.
A ministra explicou ainda que caso as patentes quebrassem, Portugal ficaria sem as vacinas, apenas com o dinheiro. "Só para fazer demonstrações de força, não penso que sirva o melhor interesse dos portugueses e penso que, sobretudo, teria custos no médio e longo prazo muito elevados".
Contudo, Marta Temido reforçou, em concordância com a presidente do Conselho Europeu e vários “atores com responsabilidades, "não podemos neste momento negar que precisamos de utilizar determinados instrumentos".
A ministra da Saúde admitiu que, para o país, compras autónomas “seria o pior” que poderia acontecer, lembrando “aquilo que foi a luta pelos ventiladores".
"Não queremos esse caminho, de facto", frisou Marta Temido, salientando que "Portugal tem apoiado vivamente, esforçadamente" o projeto Covax (mecanismo de acesso mundial às vacinas) e está a preparar-se para disponibilizar doses, no momento indicado e possível em termos técnicos, para países africanos de língua oficial portuguesa.
Recorde-se que Portugal já recebeu no total 503 mil vacinas, das quais 43 mil foram distribuídas para a Madeira e para os Açores, restando 460 mil no continente.
Das 460 mil, já foram inoculadas 400 mil vacinas e as restantes 60 mil estão em reserva.