Assunção Cristas era o trunfo da direção do CDS para Lisboa, mas a ex-líder do partido anunciou esta semana que não está disponível depois de um processo conturbado e cheio de mal-entendidos. O líder do CDS revelou publicamente que queria Cristas para Lisboa e chegou a levar o nome para uma reunião com Rio Rio sobre as coligações para as autárquicas. O problema é que Francisco Rodrigues dos Santos e Assunção Cristas nunca reuniram para falar do assunto.
Francisco Rodrigues dos Santos tentou várias vezes falar com Cristas sobre a estratégia para Lisboa, mas esta não se mostrou disponível, garante uma fonte da direção. «Houve várias tentativas de diálogo», acrescenta.
A comunicação entre o atual e a antiga líder do partido limitou-se a uma troca de mensagens. Assunção Cristas acabou por anunciar, nas redes sociais, que não estava disponível, uns dias depois do Conselho Nacional que inviabilizou a antecipação do congresso. A direção do CDS fez questão de tornar público que «tomou conhecimento» dessa «indisponibilidade» através de «uma rede social».
Assunção Cristas apresenta outra versão. A ex-líder do partido não terá gostado que Francisco Rodrigues dos Santos tivesse lançado o seu nome para Lisboa sem lhe falar previamente dessa possibilidade. Na publicação, na sua página do Facebook, em que assume que não será candidata, lamenta o «parco interesse em falar comigo, num tempo e numa forma que fica aquém do que a cortesia institucional estima como apropriado».
São três as razões apresentadas para não se voltar a candidatar depois de, há quatro anos, ter ficado à frente do PSD com mais de 20% dos votos. «A discordância da estratégia do CDS na negociação de uma coligação alargada com o PSD; o discurso contraditório da direção do CDS, que me considera simultaneamente responsável pela degradação do partido no último ano e uma boa candidata a Lisboa (…) e os desafios profissionais que tenho pela frente».
‘Chicão’ trava congresso e pede paz interna
Os críticos da liderança de Francisco Rodrigues dos Santos não vão insistir na realização de um congresso até às eleições autárquicas. O assunto ficou, para já encerrado, na reunião do Conselho Nacional do último fim de semana que decidiu renovar a confiança no atual líder.
A reunião terminou com o líder a apelar aos críticos para que «o CDS consiga colocar de lado as divergências internas». As 16 horas que durou o Conselho Nacional mostraram, porém, que as divisão são profundas numa altura em que o partido aparece com resultados fracos nas sondagens.
Foram vários os dirigentes e deputados a criticar a direção e a apelar à realização de um congresso extraordinário. João Almeida, Nuno Magalhães, Hélder Amaral, Cecília Meireles foram algumas das vozes que se distanciaram da estratégia de Francisco Rodrigues dos Santos.
As intervenção foram públicas e não faltaram avisos de que estas discussões só servem para desgastar a imagem do partido. «Foi um desastre para a imagem pública do CDS. É deplorável que membros do CDS, ainda por cima com altas responsabilidades, usem o órgão mais importante entre congressos unicamente para desgastar o partido e a sua direção, causando grave dano ao CDS e ao seu prestígio», desabafou Ribeiro e Castro, ex-líder do partido.
Com as autárquicas á porta, a direção pede paz interna. «O CDS será mais forte se houver menos ruído interno e mais empenhamento», diz Sílvio Cervan, vice-presidente do CDS, em entrevista ao Nascer do SOL (ver páginas seguintes). Mesquita Nunes, que desafiou a atual liderança, já garantiu que está disponível para ajudar até lá.
Francisco Rodrigues dos Santos quer aproveitar a visibilidade que a crise interna lhe está a dar para ganhar um novo fôlego. As demissões na direção permitem renovar a equipa e, a partir de agora, a aposta é ter uma agenda preenchida com mais ações de rua. «Esta crise pode criar uma oportunidade e ele tem de a agarrar. A verdade é que, nos últimos dias, o Francisco deu várias entrevistas e mal se ouviu falar do Chega», diz um apoiante da atual liderança.