Crenças não são estados psicológicos de adoção de uma premissa como verdadeira, mas sim coisas que põem na cabeça das pessoas. Algumas acabam por ser úteis, mas parte delas serve um propósito castrador ingénuo, como se de uma árvore de um fruto que não desejamos crescesse de um fruto caído.
O intuito inerente a qualquer fruto prende-se com a sobrevivência da espécie, e não há nada de errado com a natureza em relação a esse processo. Um fruto e a respetiva árvore apenas se tornam inconvenientes e potencialmente prejudiciais quando a localização relativa às espécies dos meios que as envolve afetar negativamente esse mesmo meio.
Quero com isto afirmar que, no nosso quotidiano, tendemos a construir premissas que nos protegem da dor e assim, de forma consciente e inconsciente, constroem a nossa zona de conforto na sociedade. Simultaneamente, são igualmente construídas crenças em torno de premissas vencedoras, que nos incentivam a perseguir desconforto e confrontar os medos. Define a pertinência desse fruto no nosso jardim consoante o local da queda e proliferação originar fruto e não prejudicar tanto a própria árvore, como às próprias espécies circundantes.
Na minha opinião, definem exemplos claros de tanto crenças positivas como negativas respetivamente a de que uma pessoa trabalhadora é uma pessoa muito ocupada, e que as pessoas que têm mais sucesso não são aquelas que trabalham mais, mas sim as que trabalham de forma mais inteligente e automatizada. Qualquer que seja o indivíduo que acredite piamente na primeira crença vai sempre ser muito ocupado, porque na cabeça dele, só se pode ser reconhecido pela capacidade de trabalho mediante o grau de ocupação, seja ele qual for. O indivíduo, qualquer que seja, que saiba que trabalhar mais não é sinónimo de conseguir mais, vai forçosamente despender do seu tempo quanto necessário para que reduza a utilização do seu tempo para tarefas que geram mais e melhores resultados.
O leitor pode defender, e bem, que efetivamente crenças, e por vezes limitações, são necessárias e cumprem o seu papel. Contudo, julgo que as crianças devem apenas ser diretamente influenciadas e auxiliadas com crenças que, sim, possam limitar a sua consciência e curiosidade, mas apenas naquilo que são as suas limitações físicas.
Imaginemos que uma criança lhe diz que quer voar. A primeira reação tende a ser de reprovação dessa ideia, por défice de imaginação e dificuldade em conceção de realidades mentais: só porque um qualquer indivíduo não consegue conceber uma criança ganhar asas, não quer dizer que não possa voar, via avião por exemplo. Não quer o leitor correr o risco de a criança ao seu cuidado saltar da janela do seu apartamento julgando que pode voar. O ideal seria explicar que aquela forma de voar não é possível dadas as características do seu corpo, mas que com esforço e trabalho, existem outras formas alternativas.
Dalai Lama constatou uma vez que os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar na saúde, entre outros aspetos. No final de conta, o ponto de partida era o início, a criança, uma folha de cor lisa sem limitações.