Na sexta-feira de manhã, o meu telefone, smart só quando quer, amuou. Simplesmente, deixou de dar sinais de vida. Tentei tudo: ligar, carregar a bateria, tirar a carta SIM e voltar a colocá-la, soprar para eliminar o pó. Nada! Decidi não dar muita importância ao assunto. Quando chegasse a casa, voltaria a empenhar-me. Estava quase certa de que, após algumas horas de descanso, a birra passaria. Enganei-me.
Fiquei três dias e três noites sem telemóvel. E agora? Família, amigos, trabalho, fotografias, banco, notícias… A minha vida inteira está no maldito smartphone. No início senti-me perdida e incompleta. Mas essa sensação durou apenas alguns minutos. Não era o fim do mundo. Decidi interpretar esta morte súbita como um sinal. Na segunda-feira pensaria se valeria a pena reparar o telefone antigo ou, simplesmente, comprar um novo. Até lá, aproveitaria da melhor forma possível esta liberdade inesperada. E nem imaginam que bem me soube!
Terminei um livro e comecei outros dois. Pus a escrita em dia. Os meus filhos agradeceram todos os momentos partilhados sem o toque que anuncia a chegada de uma nova mensagem. Estranho! Jogamos em família, experimentamos receitas novas – corrijo, provei pratos deliciosos. O fim de semana de confinamento seguiu a habitual rotina, mas com um detalhe que fez toda a diferença: a ausência do meu telefone. E este pormenor foi fundamental para obrigar-me a rever a minha relação com o aparelho que cabe no bolso ou na palma da mão.
Muitos adultos queixam-se de que as crianças e os jovens são dependentes do telemóvel. Não resistem a deslizar o dedo pelo pequeno ecrã em troca de jogos viciantes, desafios perigosos, vídeos excêntricos. Comunicam em permanência com os amigos, tiram selfies. A nova realidade só veio piorar estes comportamentos. Tudo se passa à distância. E sentimo-nos menos sozinhos com um telefone inteligente nas mãos. Não escrevo (felizmente!) com conhecimento de causa. Os meus filhos ainda não fazem parte das vítimas, mas lá chegarão. Ninguém fica indiferente ao poder da caixinha mágica.
Mas que exemplo damos nós? «Faz o que te digo, não faças o que eu faço». Mais importante que proibir é tentar ser o modelo a seguir. E, muitas vezes, falhamos. Porque somos humanos. Porque também somos escravos das tecnologias que comandam as nossas vidas. Porque não resistimos a ler as notícias que desfilam, em permanência, pelo ecrã. Porque o mundo não para e não queremos ficar para trás.
As crianças do século XXI nasceram na era digital e não podemos exigir que recusem as tecnologias do dia para a noite. Devemos, sim, defender o uso inteligente do computador, do tablet e do smartphone para que sejam ferramentas úteis, e não donos e senhores das nossas vidas. Devemos assumir o controlo em vez de sermos controlados.
Na segunda-feira, já estava a fazer planos de ir comprar um telemóvel depois do trabalho. Este gasto não vinha muito a calhar, mas não poderia estar incomunicável eternamente. Qual não foi o meu espanto quando o telefone reagiu quando, sem esperança, voltei a ligá-lo! Afinal, não passou de um capricho. Algo habitual nas máquinas criadas pelos humanos e para os humanos. Fizemos um pacto. Prescindirei do meu smartphone todos os domingos. Dou-lhe folga uma vez por semana. Faz-lhe bem a ele e a mim também.