Já não é fixe gozar com as estrelas pop. Recentemente, no Twitter, foram desenterrados vídeos do apresentador David Letterman a entrevistar uma visivelmente incomodada Lindsay Lohan, insistindo em fazer piadas sobre o alcoolismo da atriz e os seus internamentos em clínicas da reabilitação.
O editor da Face Magazine, Trey Taylor, argumentou que, atualmente, era impossível conduzir uma entrevista desta forma, e diversos internautas defenderam que não é correto diminuir as batalhas e problemas da atriz «perpetuando o estigma da adição e reabilitação», cita o site Deadline.
Esta controvérsia surgiu dias depois da estreia do documentário Framing Britney Spears, lançado pelo New York Times na plataforma de streaming Hulu e que estreou em Portugal na passada segunda-feira, no canal Odisseia. Odocumentário procura oferecer uma perspetiva de como os meios de comunicação contribuíram para a quebra da saúde mental desta cantora e de outras celebridades do sexo feminino.
A queda da autora de …Baby One More Time ou Toxic foi bem documentada pelos media norte-americanos. O momento mais notório do frágil estado de Spears aconteceu em 2007, quando a cantora entrou na Esther’s Hair Studio, na Califórnia, e exigiu que lhe rapassem o cabelo e, quando recusaram o pedido, a estrela agarrou num aparador e começou a cortar o seu próprio cabelo, enquanto dezenas de paparazzis a fotografavam do lado de fora do salão de cabeleireiro.
Após este caso, o tribunal decidiu retirar à cantora a tutela dos seus filhos, entregues ao seu ex-marido, o dançarino Kevin Federline, e decidiu que o seu pai, Jamie Spears, iria passar a tomar conta da sua filha e da sua fortuna, avaliada em cerca de 50 milhões de euros
Desde então, a cantora tem tentado libertar-se da tutela do pai, numa batalha jurídica, que, na semana passada, sofreu um grande desenvolvimento, com o Tribunal Superior da Califórnia a decidir que a fortuna de Spears ia passar a ser cogerida pela empresa de fundos fiduciários, Bessemer Trust, e o seu pai. A próxima audiência sobre a tutela de Britney Spears está marcada para 17 de março e a princesa da pop espera recuperar o poder de decisão sobre a sua carreira, finanças e património.
Nas garras do pai
Durante 13 anos, Jamie Spears foi responsável pela gestão do património da cantora e da sua carreira e, por este trabalho, recebia, segundo o The Guardian, 130 mil dólares (cerca de 110 mil euros) por ano, pagos pela fortuna da cantora, e comissões por todos os lucros que a música recebia.
Em novembro do ano passado, em protesto contra o controlo do seu pai, a cantora comprometeu-se a fazer uma pausa na sua carreira enquanto Jamie possuísse a sua tutela. Segundo o advogado da cantora, Samuel Ingham, Britney terá confessado que tinha «medo do seu pai», disse, citado pelo Mirror.
Jaime tentou justificar-se e defender que sempre quis o melhor para a sua filha. «As pessoas que acreditam nestas teorias da conspiração não sabem nada. O mundo não faz ideia. Depende de o tribunal da Califórnia decidir o que é melhor para a minha filha. É um assunto que não diz respeito a mais ninguém», disse ao Page Six, antes de ser revelado o veredicto do tribunal.
No entanto, o círculo íntimo de Britney começa a revelar algumas animosidades para com o seu pai. «Na minha opinião, o Jamie é um cretino», escreveu Sam Asghary, namorado de Britney desde 2016, num post no Instagram. «Não vou entrar em grandes detalhes porque sempre respeitei a nossa privacidade, mas, ao mesmo tempo, não vim para este país para não ser capaz de exprimir a minha opinião livremente».
Reações e pedidos de desculpa
O ex-marido de Spears, que atualmente possui 100% da tutela dos filhos depois de Jamie Spears ter agredido uma das crianças, revelou que, apesar de não ter «nenhum envolvimento em relação a Britney e seus advogados terem pedido a remoção de Jamie Spears do cargo de tutelador», está a negociar com a cantora a custódia das crianças.
A irmã da cantora, Jamie Lynn Spears, também já se expressou e, embora não tenha referido diretamente o documentário que escrutina a vida de Britney ou o envolvimento do seu pai, não poupou nas palavras duras para com os meios de comunicação que, durante anos, ridicularizaram a irmã. «Querida media, tente não repetir os erros do passado. Olhem onde isso nos levou. Façam melhor», escreveu no Instagram. «Todas as pessoas que encontras estão a lutar contra uma batalha da qual tu não sabes nada. Seja gentil. Sempre», acrescentou.
«Ela está nesta situação há muito tempo. Obviamente, existia uma razão no início», relatou o irmão de Britney, Bryan Spears, no podcast As Not Seen on TV. «Ela sempre quis sair [da tutela]. É muito frustrante ter alguém [sempre a dizer-lhe o que fazer]», continuou.
Framing Britney Spears e todo o circo mediático que se tem gerado em torno deste julgamento também fez «velhos inimigos» saírem das suas tocas e pedir perdão por comportamentos do passado. O músico Justin Timberlake, ex-namorado de Spears, que em 2002 lançou a música Cry Me a River, sobre o final da relação onde acusava a Britney de o ter traído, pediu desculpas publicamente à cantora, assumindo ter cometido «erros» que terão contribuído para «um sistema que tolera a misoginia e o racismo».
«Lamento profundamente pelos momentos na minha vida em que as minhas ações contribuíram para o problema», escreveu no Instagram no mesmo dia em que saíram as declarações do tribunal, referindo-se também a Janet Jackson, com quem atuou no espetáculo do intervalo do Super Bowl, em 2004. Durante a atuação, após ter puxado a blusa de Janet, Timberlake expôs um dos mamilos da cantora, e este caso abalou profundamente a sua carreira.
«Quero pedir desculpa especificamente à Britney Spears e à Janet Jackson, de forma individual, porque preocupo-me e respeito estas mulheres e sei que falhei», confessou o cantor, que deixou ainda acusações contra a indústria a que está ligado desde a adolescência, assim como Britney Spears, e que «prepara os homens, especialmente os brancos, para o sucesso». «Está desenhada desta forma. Enquanto homem numa posição privilegiada, tenho de falar sobre isto», explicou ainda.
Até Perez Hilton, apresentador de programas de mexericos, que no passado tantas vezes criticou e humilhou Spears, revelou que se sentiu culpado depois de ter visto o documentário sobre a cantora. «Lamento muito ou a maior parte do que disse sobre Britney. Felizmente, espero que muitos de nós fiquemos mais velhos e mais sábios», afirmou.
#FreeBritney
Esta nova onda de atenção que está a envolver a cantora surgiu através do movimento #FreeBritney. Tudo começou quando a cantora de 38 anos começou a partilhar vídeos bizarros no seu Instagram, que os fãs acreditaram tratar-se de pedidos de ajuda para impedir que o seu pai continuasse a governar a sua vida. Os fãs mobilizaram-se e criaram uma petição online, que já foi assinada por mais de 100 mil fãs, para que Jamie Spears deixe de ser o tutor legal da cantora.
Os apoiantes da estrela pop marcaram também presença junto aos tribunais onde ocorreram as sessões sobre a tutela da cantora com cartazes e megafones a exigirem a «libertação» de Britney. A hashtag chegou a ser partilhada por celebridades como Paris Hilton, Miley Cyrus, a atriz de Sexo e a Cidade Sarah Jessica Parker ou a vocalista dos
Paramore Hayley Williams e, certamente, apenas deixará de ser utilizada quando Britney Spears tiver de volta a sua vida.
Para já, o movimento #FreeBritney, mais forte e motivado do que nunca depois da primeira vitória em tribunal, não parece estar pronto para desaparecer e, em breve, terá oportunidade para regressar ao pequeno ecrã, uma vez que a Netflix se está a preparar para criar o seu próprio documentário sobre a cantora, que irá contar com Erin Lee Carr como realizadora.