Rita Sepúlveda Coelho tem 29 anos e está há dois no Dubai. Ainda antes de voar para este desafio na Emirates, a principal companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, a jovem esteve cerca de cinco anos em Londres, onde estudou Arquitetura de Interiores enquanto trabalhava como relações públicas em clubes noturnos privados.
Regressada a Portugal, foi invadida pela «frustração», uma vez «que nunca na vida iria conseguir receber um ordenado que valesse a pena o dinheiro investido na educação em Inglaterra». Entre Londres e a mudança para o Dubai, passou cerca de um ano em Portugal, período em que trabalhou numa startup de marketing, ao mesmo tempo que desenvolveu o conceito de festas de música eletrónica, organizadas num armazém renovado na zona de Marvila.
Entretanto, em conversa com uma amiga próxima, que era assistente de bordo no setor privado na Arábia Saudita, sentiu-se também ela motivada para fazer o check-in no mundo da aviação. Assim, aterrou no Dubai, emirado que, admite, só agora está a conhecer verdadeiramente devido ao menor número de voos que faz face ao contexto pandémico.
A segurança é, para a jovem portuguesa, um dos fatores mais positivos da cidade, onde, confessa, tem sido cada vez mais surpreendida pelo estilo de vida e pelas pessoas. «O Dubai é um emirado onde a grande maioria da população é jovem e bastante ativa, e onde há uma mistura da cultura árabe com o estilo de vida ocidental. Ou seja, ainda se encontra um estilo de vida em que há muitas coisas que só as pessoas expat [expatriados] fazem, porque grande parte dos locais ainda não se misturam tanto e vivem em ambientes um pouco mais fechados que protegem mais as regras religiosas. Mas como os Emiratis de gerações mais novas já viajam muito e já viveram ou estudaram no estrangeiro, cada vez mais as mentalidades se cruzam e nascem projetos novos a todo o momento que visam promover cada vez mais o património cultural, bem como os avanços tecnológicos que acontecem aqui a um ritmo surpreendente, tendo em conta que os Emirados se desenvolveram em tempo recorde nos últimos quase 50 anos. Mas aquilo de que mais gosto no Dubai é o facto de ser o local mais seguro do mundo. Ou há pessoas ricas ou de classe média, mas toda a gente vive bem. A taxa de criminalidade é muito baixa. Às vezes nem tranco o carro ou até mesmo a porta de casa», conta.
Rita defende ainda que as pessoas têm uma ideia errada do Dubai, «tal como eu também tinha». «Os árabes estão sempre dispostos a mostrar às pessoas aquilo que há de bom no país; além de que, aqui, há imensa oferta a nível cultural completamente gratuita: concertos, tours para conhecer a cidade e os passeios mais incríveis pelas praias, dunas, montanhas e oásis secretos que existem nos desertos… E, ao contrário daquilo que as pessoas pensam, não é um mundo nada falso, só com as discotecas, centros comerciais, bares, praias…», assegura. E continua: «O problema é que a maioria das pessoas que vêm ao Dubai fazem um tipo de férias muito à volta da praia e de beber copos, mas há um lado incrível do Dubai que só as pessoas que vivem cá é que conhecem, já que optam por explorar outros ambientes e atividades».
Drones, vacinação e dia-a-dia
Apesar da obrigação de usar máscara na rua manter-se, como acontece, aliás, desde o início da pandemia, a vida no Dubai já recuperou grande parte da normalidade. «O Dubai foi um dos primeiros países a ter grande parte da população já vacinada e foi dos primeiros países a aplicar as regras de confinamento de forma rigorosa. Assim que começou o confinamento, havia drones durante três dias a desinfetarem as ruas. O apoio do governo é imenso no combate à covid. A minha empresa, por exemplo, oferece-nos a vacina. Agora estamos com uma vida normal. Os bares e discotecas continuam fechados, mas nos restaurantes podemos ir até sete pessoas. Temos que andar de máscara na rua mas, de resto, está tudo aberto», adianta.
O setor da aviação foi das principais áreas afetadas pela covid, e Rita relembra o último ano negro: «Este último ano perdemos o equivalente ao lucro do ano anterior. Infelizmente, houve muitas companhias aéreas que tiveram que fechar porque não tinham capital suficiente para se manterem à tona».
Rita deverá renovar contrato com a Emirates no próximo ano, depois de ter sido há dias distinguida, pela segunda vez, com o galardão NAJUM, prémio de mérito para os ‘cabine crew’ que têm boas prestações a bordo.
Nesta aventura, a jovem só lamenta ver-se obrigada a perder datas importantes, como o Natal ou festas de casamento de familiares e amigos. «A nossa época alta é entre outubro e janeiro e, por ser um país muçulmano, que não celebra o Natal, acabamos por perder cerimónias importantes, há dois anos que não passo o Natal com a minha família, por exemplo».
Com uma coleção que ronda já os 40 carimbos no passaporte, Rita espera continuar a voar alto nos próximos tempos.
E, se assim for, será bom sinal.