Mais uma voltinha, mais algumas medalhas para a seleção nacional portuguesa. Se Auriol Dongmo, Pedro Pichardo e Patrícia Mamona foram o tema de conversa da última semana, devido aos sucessos nos Europeus de Atletismo de pista coberta, este fim de semana viu Portugal brilhar novamente na modalidade, desta vez na sua vertente adaptada aos atletas com deficiência intelectual.
Portugal arrecadou 17 medalhas em Nantes, onde decorreu a competição, o que lhe valeu um total de 57 pontos no medalheiro, ficando em segundo lugar, atrás da anfitriã França, que arrecadou 59 pontos. Foram sete medalhas de ouro, seis de prata e quatro de bronze.
Lenine Cunha, o atleta paralímpico mais medalhado do mundo, saiu da França neste fim de semana com mais sete medalhas no seu pecúlio, totalizando, agora, 218. O gaiense venceu o ouro no triplo salto, bem como no salto em comprimento e no salto em altura. A prata veio no pentatlo, nos 60 metros barreiras e na estafeta 4x200m, junto de Domingos Magalhães, Carlos Freitas e Igor Oliveira. Já na estafeta 4x400m, Lenine Cunha venceu o bronze, com Domingos Magalhães, Carlos Freitas e Cristiano Silva Pereira.
“Ainda fico surpreendido comigo mesmo”, confessou Lenine Cunha ao i, relativamente às sete medalhas que venceu na competição, em Nantes. “Tenho 38 anos, dos quais 31 de carreira e 21 de alta competição, e ainda assim fico surpreendido”, continuou, revelando o segredo por trás do seu sucesso: “é fruto de muito trabalho e muita persistência”, bem como do trabalho de patrocinadores, equipas, colegas e, como o mesmo faz questão de realçar, da Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual.
Mas os feitos nesta competição não se resumem às medalhas de Lenine. Nas vertentes femininas, Ana Filipe liderou também as conquistas, com um total de quatro medalhas. No salto em altura, a atleta venceu a medalha de ouro, tal como nos 60 metros barreiras e no triplo salto, ao atingir a marca dos 11.65 metros. Ana Filipe, natural da ilha Terceira, nos Açores, arrecadou ainda uma medalha de prata, no salto em comprimento.
Os Europeus de Atletismo adaptados decorreram durante todo o fim de semana, e, se na sexta-feira e no sábado já a seleção nacional tinha mostrado a sua vontade de ganhar, com a prata de Igor Oliveira nos 60 metros e de Afonso Roll nos 3.000 metros marcha, bem como o bronze de Domingos Magalhães nos 60 metros barreiras e lançamento do peso, os eventos de domingo permitiram aos atletas portugueses recolher mais umas quantas medalhas.
Para além das já mencionadas conquistas de Lenine Cunha e Ana Filipa, Cristiano Pereira, por exemplo, sagrou-se campeão europeu nos 3.000 metros, alcançando a medalha de ouro e marcando o recorde nesta competição, já depois de ter conseguido o bronze nos 1.500 metros, na sexta-feira.
Com estes resultados, Portugal igualou o feito alcançado na primeira edição desta competição, em 2000, em que, tal como neste ano, acabou em segundo lugar, e trouxe mais 17 medalhas na modalidade.
Um longo caminho
O sucesso da seleção portuguesa nesta competição europeia não é, no entanto, uma surpresa. Na edição de 2019, na Turquia, os atletas lusitanos tinham já arrecadado 19 medalhas, e há pouco mais de um ano, em fevereiro de 2020, Portugal brilhava nos Mundiais de Atletismo para atletas com deficiência intelectual, conquistando também um total de 19 medalhas (7 de ouro, 7 de prata e 5 de bronze), com, como seria expectável, Lenine Cunha na liderança da tabela, e com a seleção masculina a sagrar-se campeã do mundo na classificação por nações. Nos Mundiais de 2020, Cunha arrecadou o ouro no triplo salto e no pentatlo, bem como a prata no salto em comprimento, e uma medalha de bronze no salto em altura. Junto dele estiveram muitos dos mesmos nomes que brilharam no passado fim de semana em Nantes, como Ana Filipe, que conquistou na altura, também, quatro medalhas, sendo duas de ouro e duas de prata. Sandro Baessa e Afonso Roll foram também protagonistas nas medalhas de ouro alcançadas nessa competição pela seleção nacional.
Um fenómeno chamado Lenine Cunha
Em praticamente todos os palmarés do atletismo para atletas com deficiências intelectuais há um nome que não falha: Lenine Cunha. O atleta, de 38 anos, orgulha-se de ter vencido, até ao momento, um total de 218 medalhas com as cores de Portugal, tornando-se no desportista paralímpico mais medalhado do mundo. Depois das sete medalhas nos Europeus, vem agora “uma semana de descanso ativo”, que antevê, como o próprio refere, os torneios ao ar livre, no verão próximo, e o grande objetivo deste ano, “conseguir a marca no salto em comprimento para chegar aos Paralímpicos de Tóquio”, se o fizer marcará presença nos seus quartos Jogos Paralímpicos.
Atingido por uma meningite aos 4 anos de idade, a doença não o impediu de seguir o seu sonho e de alcançar o topo do atletismo mundial nesta categoria, que lhe valeu a distinção, em 2017, como Melhor Atleta do Mundo com deficiência intelectual, e a fama não foi mal empregue. Lenine Cunha, que foi também nomeado ao prémio de Desportista Masculino do Ano, em 2009 e 2012, pela Confederação do Desporto, venceu a medalha de bronze no salto em comprimento, nos Jogos Paralímpicos de Londres de 2012, e conquistou o ouro no Campeonato Mundial de Atletismo Paralímpico, em 2015, no triplo salto, marcando mais uma vez o seu nome no panorama internacional deste desporto.