“A pandemia causada pela covid-19 tornou visível a situação grave em que se encontrava o SNS”. É esta a conclusão de um estudo realizado pelo economista Eugénio Rosa. De acordo com o economista, o subfinanciamento crónico conduziu à falta de profissionais de saúde devido à ausência de carreiras, remunerações e condições de trabalho dignas, o que promoveu a “promiscuidade público-privada”, isto é, profissionais de saúde a trabalharem simultaneamente no SNS e em hospitais privados, a baixa produtividade no SNS e a deficiente cobertura da população de cuidados de saúde.
Tal é evidenciado, por exemplo, pela existência de “centenas de milhares de portugueses” que continuam sem médicos de família, pelas “camas com doentes nos corredores dos hospitais por não haver lugares nos hospitais para os instalar, que os media divulgavam periodicamente mesmo antes da crise de saúde pública, os enormes atrasos em consultas de especialidade e em cirurgias, hospitais prometidos que nunca saíram do papel”, como o do Seixal, a renovação ou a ampliação de unidades de saúde que não ocorreu. “Tudo isto se agravou com a pandemia que desorganizou ainda mais o SNS”, asseverou.
“Mesmo antes da pandemia, a esperança de vida em Portugal tinha começado a diminuir devido à degradação crescente do SNS e à falta de resposta deste”, avançou, adiantando que o nível de esperança de vida, que tinha aumentado de modo continuo entre 2006 e 2017, de 79 anos para 81,6 anos, a partir de 2017, inverteu-se, com “uma diminuição cada vez mais acentuada”.
Desta forma, para o economista, tornava-se previsível que, em 2020, devido ao crescimento da mortalidade no âmbito da pandemia tal como pelas outras doenças por “falta de assistência médica”, a queda tenha sido ainda maior do que a verificada em 2019.
“Embora a esperança de vida à nascença em Portugal fosse, em 2019, de 80,9 anos, a média de anos que um português vive com saúde era, nesse ano, 59,2 anos, o que determina que viva 20 anos com problemas de saúde causados, em grande parte, pela falta de cuidados adequados devido à degradação crescente do SNS (falta de meios)”, afirmou.
É de realçar que, enquanto em Portugal, se constata uma diminuição de anos de vida com saúde – de 63,6 anos em 2012 para 59,2 anos em 2019, nos países da União Europeia aumentou de 61 anos para 64,6 anos.