por Luís Jacques
Engenheiro civil
O primeiro-ministro António Costa pediu aos especialistas que aconselham os poderes públicos, no combate à pandemia do Covid-19, que apresentassem um plano para o desconfinamento e quais as linhas vermelhas que não podiam ser ultrapassadas no controlo da pandemia.
Antes mesmo dos cientistas apresentarem o plano de desconfinamento, o Presidente Marcelo resolveu condicionar os especialistas, pois identificou alguns indicadores com os valores que achava importante para cada um deles e afirmou que devíamos manter o confinamento até à Páscoa.
Na reunião do Infarmed do dia 8 de Março ficámos a saber que Portugal apresentava o índice de transmissibilidade (Rt) do vírus SARS-CoV-2 mais baixo da Europa, com um valor estimado para os últimos cinco dias de 0,74 para o território nacional, e com uma incidência já perto dos 120 novos casos por 100 mil habitantes, nos últimos 14 dias.
Nas apresentações que foram feitas ficou claro que os indicadores de controlo da pandemia já permitiam que se tivesse aberto alguns sectores no início de Março, pois na matriz de risco, apresentada pelo primeiro-ministro António Costa, iremos passar do nível 4 directamente para o nível 1, sem passar pelo nível 3 e pelo nível 2! A reunião do Infarmed veio confirmar que não havia justificação científica para o país continuar confinado até à Páscoa.
O primeiro-ministro António Costa apresentou, no dia 11 de Março, um plano de desconfinamento que ao contrário do que tinha dito foi em função de datas e não em função dos indicadores de controlo da pandemia. A matriz de risco só considera o Rt inferior ou superior a 1, quando foi referido nas apresentações dos especialistas que é importante considerar também o Rt igual a 1,10 e o Rt igual a 1,20. Da mesma maneira é importante ter uma granulometria mais fina do que a incidência nos 120 novos casos por 100.000 habitantes, nos últimos 14 dias. É importante ter na Matriz de risco os 60 novos casos por 100.000 habitantes, nos últimos 14 dias, definidos como o controlo da pandemia.
Desde o início da pandemia de COVID-19, a estimativa do R(t) variou entre 0,8 e 2,12, tendo-se observado um valor de Rt de 1,84 a 13 de Março de 2020, quando fecharam as escolas. A 5 de Maio de 2020, data do 1º desconfinamento o valor do Rt era de 0,91, tendo-se mantido abaixo de 1 até 22 de Maio de 2020 quando foi de 1,03. Manteve-se acima de 1 até ao fim de Junho. Esteve depois abaixo de 1 durante o mês de Julho, voltando a subir acima de 1 durante o mês de Agosto e manteve-se até 20 de Novembro quando o Rt foi 0,98. A partir daqui manteve-se abaixo de 1 até 25 de dezembro quando o Rt atingiu 0,97. Observou-se um aumento acentuado do R(t) em poucos dias, tendo passado de 0,97 a 25/12/20 para 1,24 a 4/01/21, ou seja, um aumento de 0,27. Este aumento do R(t) foi o início de uma nova fase de crescimento da incidência de SARS-CoV-2 correspondente à terceira vaga. Depois o Rt desceu até aos 0,98 a 26 de Janeiro e manteve-se abaixo de 1 até aos dias de hoje.
Na última semana de Fevereiro a incidência de novos casos por 100.000 habitantes, nos últimos 14 dias, estava a descer de forma acentuada e já era próxima de 120. O Rt era de 0,72.
No dia 11 de Março a incidência já era de 105 novos casos por 100.000 habitantes, nos últimos 14 dias e o Rt era de 0,78. O número de doentes internados em unidades de cuidados intensivos, no dia 14 de Março, baixou para 243. É a primeira vez em 2021 que temos um número abaixo dos 245 definidos pelos especialistas como linha vermelha. Já o número total de internados está nos 976. Desde 14 de Outubro que o número não é tão baixo. Já estamos na zona verde da matriz de risco.
O que vai abrir no dia 15 de Março já poderia ter aberto no início de Março. Se o governo socialista queria ganhar mais alguns dias até poderia ter começado por abrir no dia 1 de Março as escolas com crianças até aos 12 anos, creches, o ensino pré-escolar e o 1º e 2º ciclo do ensino básico, como defenderam na carta aberta "Prioridade à Escola", assinada a 23 de Fevereiro, os epidemiologistas, psiquiatras, pediatras e outros médicos, psicólogos, cientistas e profissionais de diferentes áreas, bem como, de professores e pais. Abrindo depois no dia 8 de Março as restantes acticvidades que vão abrir no dia 15 de Março.
Se quatro pessoas podem entrar numa mercearia, porque motivo não podem entrar no comércio de retalho com porta para a rua e com a mesma área? Porquê insistir nas vendas ao postigo para o pequeno comércio de rua? Ainda para mais quando se pode entrar em livrarias, comércio automóvel, mediação imobiliária, bibliotecas e arquivos.
O governo socialista teve 60 dias de confinamento para planear e organizar a reabertura das diferentes actividades, mas uma vez mais vai andar a reboque dos acontecimentos. As escolas abrem no dia 15 de Março, mas a vacinação de professores e funcionários das escolas só arranca no dia 20 de Março! Espero que seja só para professores e funcionários incluídos no grupo de risco. Todos os outros, bem como, os estudantes devem ser sujeitos a testes rápidos.